Declínio de partidos tradicionais eleva dúvidas sobre negociações de reformas no Congresso
Eleito o novo Congresso e definidos os dois finalistas na disputa pela Presidência da República, o país ainda se vê diante de grandes incógnitas quanto à agenda dos próximos anos e sua viabilidade.
Estão longe de claros os planos de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) para lidar com questões cruciais da crise econômica. Além do mais, mostra-se incerta a conformação política do novo Parlamento no que diz respeito a lideranças que possam organizar a base de apoio ao futuro presidente.
Houve grande mudança na Câmara dos Deputados. Embora tenha causado espécie a taxa de renovação, com presença maior de novos deputados, não é essa a novidade mais relevante.
Os recém-chegados são cerca de 52% da Câmara, taxa maior que as registradas de 1998 a 2014 —quando, no entanto, jamais caíram abaixo da casa dos 44%. Mais significativa tende a ser a nova correlação de forças entre os partidos.
As legendas que desde os anos 1990 costumavam disputar o comando da Casa e organizar coalizões de governo encolheram. As bancadas de MDB, PSDB e DEM somavam em torno de 240 deputados (perto da metade do total de 513) até 2006. Já haviam caído para 141 cadeiras na eleição de 2014; neste ano, somente 92.
Tal queda reflete em parte o aumento da fragmentação partidária, que voltou a bater recorde neste pleito, e também o desprestígio de partidos de centro mais claramente identificados ao establishment.
A segunda maior bancada foi formada pelo PSL de Bolsonaro, que passou de 1 eleito em 2014 para 52 deputados. Não se conhece nem a disposição do partido nem de seu líder de formar coalizões. O candidato reafirma a cada momento que não fará composições de poder com outras siglas.
A esquerda praticamente manteve seu tamanho, com 136 deputados. Os partidos do chamado centrão —ao menos os sete que permaneceram unidos em torno da candidatura de Geraldo Alckmin(PSDB)— também conservaram seu peso, com 186 parlamentares.
Uma vitória de Haddad obrigaria o PT a se coligar com mais de uma ou duas dezenas de partidos conservadores ou fisiológicos, tarefa das mais difíceis no ambiente de polarização política no país.
Já Bolsonaro teria de contar com grande fidelidade de quase todas as legendas, excluídas as de esquerda, a fim de formar maioria confortável para aprovar reformas.
A fragmentação partidária, de resto, torna ainda mais incerta uma disputa que costuma ter consequências importantes para a estabilidade do Parlamento e de suas relações com o Executivo —aquela pela presidência da Câmara.
Somem-se a tais incertezas as dúvidas sobre programas e comportamento do presidente. As condições de governo no novo cenário congressual estão por ser conhecidas.
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