Tucano montou equipe econômica respeitada e se juntou ao centrão, mas não conseguiu crescer
Raquel Landim | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência, explicava aos jornalistas —pausadamente— sua proposta de reforma tributária, a despeito do barulho que reinava na Galeria Pagé, centro de comércio popular de São Paulo, menos de 20 dias antes das eleições.
Era quase impossível ouvi-lo, mas ele não se intimidava, nem mesmo quando um ou outro passante o interrompia aos gritos de "Bolsonaro", referindo-se a Jair Bolsonaro (PSL).
Alckmin só alterou o tom de voz quando questionado sobre uma reunião dos partidos do "centrão", marcada para a tarde do mesmo dia, a fim de discutir o desembarque da sua candidatura, que não ultrapassava os 11% de intenção de voto.
Neste momento, ele lançou um olhar duro e respondeu secamente: "Não procede".
O episódio descreve bem as duas facetas de Alckmin. A primeira é a mais conhecida do público: um homem interiorano, calmo e discreto, que não gosta de rico, nem de intelectual, e que ganhou o apelido de "picolé de chuchu" por causa da falta de carisma.
A segunda só é revelada pelos que conviveram com ele: um gestor perfeccionista, que cobra muito dos subordinados, e um hábil negociador político, que impõe sua vontade mesmo no ninho de vaidades do tucanato.
Em uma eleição marcada pela antipolítica, ele é o mais político dos postulantes ao Planalto. Nascido em Pindamonhangaba (SP), em 1952, Geraldo Alckmin foi eleito vereador aos 20 anos, quando ainda cursava o último ano de medicina, e logo depois, prefeito.
Chegou à política pelas mãos de um amigo do pai, Franco Montoro, um expoente do MDB e da "democracia cristã", corrente de pensamento que prega a democracia baseada nos princípios cristãos de liberdade, solidariedade e justiça.
Católico praticante, Alckmin comunga da ideologia e nunca foi de esquerda, ao contrário de outros líderes do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
Com apoio de Montoro, Alckmin foi eleito deputado federal em 1988. Não era um congressista destacado, mas não passou em branco. Foi autor do código de defesa do consumidor. No mesmo ano, tornou-se um dos fundadores do PSDB. A guinada na carreira veio em 1994, quando foi escolhido para vice-governador na chapa de Mário Covas. A despeito de serem diferentes —Covas era explosivo e "turrão"— os dois se deram bem.
A chapa foi reeleita em 1998, e, quando Covas morreu vitimado por um câncer de bexiga em 2001, Alckmin não só assumiu o cargo de governador como converteu-se em seu herdeiro político, sendo reeleito em 2002.
Alckmin também herdou os embates dentro do partido, particularmente com Serra, com quem disputaria algumas vezes a indicação para concorrer à Presidência. Em 2006, superou o rival e tentou pela primeira vez, mas perdeu para Lula, candidato à reeleição.
Em 2008, Alckmin e Serra quase romperam. O primeiro concorreu à Prefeitura de São Paulo a despeito da vontade do segundo, que, eleito prefeito e depois governador, preferia apoiar seu antigo vice e candidato à reeleição, Gilberto Kassab. Sem apoio do próprio partido, Alckmin nem passou para o segundo turno.
Depois de mais uma derrota, parecia alijado da política até se eleger novamente governador de São Paulo em 2010 e se reeleger em 2014. Tornou-se o político a comandar São Paulo por mais tempo na história —14 anos.
Em 2016, inventou a candidatura do novato João Doria à Prefeitura. Com a vitória de Doria, Alckmin se cacifou para disputar a Presidência em 2018, mas o favorito dentro do PSDB ainda era Aécio Neves, que havia perdido para Dilma em 2014.
Aécio, porém, acabou abatido pela delação de Joesley Batista, da JBS, que o gravou pedindo R$ 2 milhões em propina. Para evitar o esfacelamento do PSDB, FHC procurou Alckmin e pediu que assumisse a presidência do partido, porque havia se tornado o candidato natural à Presidência.
Não é que estivesse livre do alcance da Lava Jato. Era suspeito de receber caixa 2 por meio do cunhado —acusação que ele nega—, mas estava mais "limpo" que Aécio ou mesmo Serra, envolvido na delação da Odebrecht.
Alckmin ainda enfrentaria a pretensão de Doria de concorrer à Presidência, que não vingou, mas o deixou magoado.
Confirmado candidato, montou um time forte, capitaneado pelo economista Persio Arida, um dos pais do Plano Real, e conquistou como vice a senadora Ana Amélia (PP). Muitos políticos passaram a apostar que se repetiria em 2018 a polarização entre PT e PSDB, a despeito da Lava Jato.
Calculavam que o ungido por Lula teria vasto apoio no Nordeste, enquanto Alckmin dominaria São Paulo. O raciocínio embasou a adesão do "centrão" à candidatura. A coligação garantiu a Alckmin o maior tempo de TV e acusações de "ser como os outros".
O tucano, contudo, não empolgou nem no Sudeste. Às vésperas do pleito, apenas uma pessoa seguia convicta da viabilidade da candidatura: o próprio Alckmin. Fiel ao seu estilo, não esmorecia.
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