Por Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - Na largada para o segundo turno, o senador eleito pela Bahia, Jaques Wagner (PT), incorporado ao time de Fernando Haddad, tomou as rédeas da campanha para aplicar um choque de comunicação tardio, que poderá surtir ou não efeitos a 12 dias da votação. Wagner trouxe para a campanha de Haddad o reforço de profissionais da Bahia para promover mudanças nas redes sociais e no horário eleitoral, setor em que diagnosticou, ao lado do candidato, falhas na primeira etapa da disputa.
Haddad conduziu uma reunião em São Paulo na última terça-feira apenas com o governador da Bahia, Rui Costa, e Jaques Wagner, incorporados à coordenação da campanha, quando ouviu de ambos que deveria dar mais entrevistas, principalmente para rádios e televisão, turbinar as redes sociais, em especial o WhatsApp, e adicionar doses de emoção à disputa.
Wagner avocou para si a missão de turbinar a comunicação. Na última quinta-feira, Haddad concedeu entrevista para um pool de 98 rádios do interior da Bahia. A estratégia foi repetida ontem, quando o candidato petista falou para um dos locutores mais conhecidos do Estado, Mário Kertész, em um pool de 28 rádios baianas.
Ontem, Haddad deu três entrevistas para rádios, incluindo o pool de emissoras baianas, falou para veículos de internet, participou de um ato com professores e gravou entrevista para a TV dos Trabalhadores (TVT). Hoje ele falará para a rádio Jovem Pan e para uma emissora do Piauí. O petista concedeu mais entrevistas em oito dias de campanha no segundo turno do que durante um mês como candidato na primeira fase.
Wagner escalou profissionais baianos de sua confiança para reforçar a equipe de paulistas responsáveis pelas redes sociais e pelo horário eleitoral. A partir desta semana, os programas vão explorar falas polêmicas de Bolsonaro, como de que o Bolsa Família é benefício "assistencialista" para sustentar quem não quer trabalhar. Em outra declaração, ele diz que pobre "só serve pra votar", e que leva "diploma de burro no bolso".
A constatação interna é de que é preciso dar um "cavalo-de-pau" na comunicação, porque o petista está perdendo a eleição para o aplicativo de mensagens instantâneas dos smartphones, principal instrumento de comunicação dos brasileiros. Em contrapartida, Jair Bolsonaro (PSL) contaria com pelo menos dois mil grupos de WhatsApp organizados divulgando notícias a seu favor. Petistas afirmam que ele e seus apoiadores fariam uso até mesmo de robôs em uma suposta indústria de "fake news", o que não foi confirmado até agora.
Empenhado em simplificar a linguagem, Haddad referiu-se ao adversário como "cabra" na conversa com Kertész, para adotar um jargão nordestino. "Ele disse que o filho dele jamais se casaria com uma negra porque educou bem os filhos", relembrou o petista. "Não tem um baiano que vai votar nesse cabra", afirmou, em alusão a Bolsonaro. Ao fazer uma autocrítica sobre erros do PT, usou um ditado popular: "não podemos jogar a água do banho fora com a criança junto".
Simultaneamente, o candidato é cobrado a abandonar a linguagem "professoral" para adotar um vocabulário mais simples, porém incisivo, a fim de na reta final tentar estabelecer uma linha direta com o "povão", o que não conseguiu até agora.
Outra recomendação dos baianos é para adicionar "emoção" à campanha, e expor sua vida pessoal. Bolsonaro levou a fama de defensor da "família", enquanto os eleitores desconhecem que Haddad mantém um casamento longevo, há 30 anos, com dois filhos, e dois cachorros.
O próprio Rui Costa é referência de político que domina como poucos as redes sociais para interagir com os eleitores. Na campanha pela reeleição, anunciou a entrega de ônibus para transportar a população para fazer exames no interior, equipados com redes de Wi-Fi. "Quando o seu marido disser que saiu pra fazer exame, pede pra ele bater uma foto de dentro do ônibus", disse Costa em um comício, sendo ovacionado pelas eleitoras.
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