Por Malu Delgado | Valor Econômico
SÃO PAULO - As dificuldades para que o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, consiga produzir fatos e sinais claros de apoio mais amplo na disputa com Jair Bolsonaro (PSL) se acumulam e esbarram no curtíssimo tempo que resta de articulação no segundo turno. Na noite de ontem, emissários de Haddad sinalizaram, mais uma vez, a intenção de bater à porta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.
O candidato também aguardava resposta do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa sobre uma possível adesão à campanha ou ao menos uma declaração favorável ao petista.
Nos dois casos, tanto FHC quanto Barbosa sinalizam que só poderão cogitar o apoio a Haddad se houver inflexão clara do petista em pontos específicos do programa de governo. O discurso de Haddad em prol da democracia não é e não será suficiente para construir esta unidade de forças democráticas. Além de perder o 'timing', a liderança consolidada de Bolsonaro nas pesquisas limita os movimentos do PT sobre eventuais alianças.
Ontem, o candidato fez um outro movimento e disse ter conversado com o professor Mario Sérgio Cortella. No Twitter e em entrevistas, Haddad disse que Cortella seria um excelente ministro da Educação. Um convite, porém, não foi feito. Houve apenas um contato telefônico.
Os movimentos de Haddad esbarram na falta de autonomia que o candidato tem dentro do PT. O novo coordenador político da campanha, o ex-ministro Jaques Wagner, afirmou ontem ao Valor que Haddad "tem total liberdade" para conduzir pontes com setores amplos da sociedade, para além da política, inclusive. Wagner é um dos defensores, dentro do PT, da construção de um campo amplo em torno da candidatura. Eleito senador, Wagner disse não gostar do nome "frente ampla", porque uma frente só pode ser de fato construída em caso de vitória.
Haddad declarou ontem, em entrevista a jornalistas, que não tem feito outra faz coisa "a não ser falar com pessoas" que podem compor frente democrática que se oponha a Bolsonaro (PSL).
O candidato voltou a mencionar o encontro com Joaquim Barbosa e foi questionado sobre sinais concretos que poderia fazer a Ciro Gomes, do PDT, para tê-lo a seu lado, como um compromisso de não disputar uma eventual reeleição.
"Pelo Brasil democrático, eu estaria disposto a qualquer tipo de...", disse, sem concluir o raciocínio. Haddad afirmou que tem feito "vários outros contatos desta natureza", mas que não citaria nomes devido a pedidos de reserva das pessoas com as quais busca uma interlocução.
Wagner voltou a defender ontem que Haddad vá ao Ceará, caso Bolsonaro insista em permanecer "escondido debaixo da cama e atrás de uma receita [médica]" e não vá a nenhum debate. Ele sinalizou que Ciro pode antecipar seu retorno da Europa. "Nosso governo teria que ser mais amplo do que nunca", disse Haddad, que deu entrevista com uma bandeira nacional ao fundo. "A bandeira não é do Bolsonaro. São as cores do Brasil", justificou Jaques Wagner.
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