segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Está cada vez mais visível o alto custo do Brexit para os britânicos: Editorial | O Globo

Novo referendo é a melhor alternativa para contornar a crise política em torno da saída da UE

Pode ser que, pelo fato de estarem à mesa de negociações pontuais britânicos e perfeccionistas alemães, os entendimentos para a saída da Grã-Bretanha da União Europeia —ou não — cumprem um calendário que aponta para 29 de março, nem mais nem menos, como o dia do desenlace. Tenham chegado a algum acordo ou não. Os europeus do continente, porém, deixaram uma porta de fuga aberta: a qualquer momento, até esta data, os britânicos podem recuar e continuar na UE, no mesmo status atual.

Mas não se vê político na Grã-Bretanha que levante esta bandeira. Por enquanto. O calendário é rígido, mas permite flexibilizações. A primeira-ministra Theresa May, por exemplo, tentou votar no Legislativo, há pouco, o acordo a que chegou com a UE. Percebeu que perderia, recuou e a pauta passou para janeiro. De certeza, até agora, apenas a convicção de que o voto do referendo em 2016, que aprovou o Brexit por estreita margem, 51,9% a 48,1%, foi emocional, impulsionado por promessas irreais do brexitistas na linha de que bastaria comunicar à UE a intenção de sair que a imigração britânica passaria a barrar quem quisesse. Não era nem nunca será tão simples.

Por uma série de razões—étnicas, religiosas e, principalmente, econômicas — britânicos também foram inoculados pelo vírus da xenofobia. Foram manipulados pela ideia ilusória de que bastaria sair da UE para fechar as portas, religar alto-fornos de siderúrgicas ultrapassadas, reabrir estaleiros obsoletos. Mas até 29 de março há tempo para muito debate, nos espaços institucionais, como o Legislativo, a imprensa, a sociedade. Os que se iludiram com a ideia de que bastaria se desconectar da UE e fechar as fronteiras já devem ter percebido que há um custo para o divórcio: barreiras a exportações britânicas para o continente, a exigir duras negociações de acordos comerciais; perda de grandes vantagens do centro financeiro mundial de Londres (a City), que hoje pode operar no continente sem custos adicionais etc.

O tempo permite, espera-se, reflexão. Dados que o Banco da Inglaterra, BoE, o BC britânico, divulgou há pouco são importantes para se entender o tamanho do problema que pode ser o Brexit: se houver uma ruptura, em 29 de março, sem qualquer acordo, acontecerá uma recessão na Grã-Bretanha maior do que na crise financeira mundial a partir de 2008/2009. A depender da restrição à imigração, intenção dos xenófobos, a Grã-Bretanha padecerá uma perda no PIB a longo prazo. Bem como uma queda de produtividade, segundo técnicos do BoE. Não faltam subsídios para os políticos britânicos decidirem. E ainda há uma possibilidade, mesmo remota, de novo referendo, com a sociedade mais informada. Esta é a melhor alternativa.

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