Alvo de nova denúncia, Temer chega ao final do mandato de modo melancólico
Na quarta-feira (19), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou o presidente Michel Temer (MDB) por corrupção e lavagem de dinheiro. Outros cinco nomes foram alvo da entidade, todos investigados no inquérito a respeito de um suposto esquema criminoso vinculado ao porto de Santos.
A apuração teve início em 2017, com o objetivo de averiguar a possibilidade de um decreto presidencial ter beneficiado a empresa Rodrimar, que por sua vez teria pagado propina ao mandatário. O dinheiro passaria por firmas ligadas ao coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, amigo de Temer de longa data.
Acusado de ser um operador financeiro do emedebista, o coronel Lima já se viu envolvido em outros casos rumorosos, como o pagamento de cerca de R$ 1 milhão em espécie a um fornecedor contratado para reforma na residência de uma das filhas do presidente.
Entre os denunciados pela Procuradoria figura o ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures, que ganhou notoriedade por ter sido flagrado ao receber uma mala com dinheiro da JBS.
O presidente rechaça as suspeitas e alega que seu decreto em nada beneficiou a Rodrimar. É a terceira denúncia de que Temer é alvo em seu breve mandato. As outras duas, como se sabe, foram apresentadas no ano passado pelo então procurador-geral Rodrigo Janot.
Polêmicas, pelo modo como foram arquitetadas e formuladas, as iniciativas de Janot levaram o governo a sofrer sérios danos políticos. Para garantir que a Câmara dos Deputados não aceitasse as denúncias, preservando-o em suas funções, o mandatário promoveu extenuantes e acintosas rodadas de negociações fisiológicas.
Forçado a fazer concessões, tornou-se refém do Legislativo e viu seu poder de mando minguar. O desgaste foi um dos obstáculos enfrentados pelo Executivo na tentativa frustrada de aprovar a prometida reforma da Previdência.
Num último esforço para virar o jogo no início deste ano eleitoral, Temer decretou, em fevereiro, intervenção federal na segurança do estado do Rio de Janeiro.
Na ocasião, declarou num arroubo de otimismo que executara "uma jogada de mestre" e chegou a nutrir por um breve período a fantasia de concorrer ao Planalto. Os resultados, entretanto, foram sofríveis, na melhor hipótese.
Ao se aproximar do fim de sua gestão, o presidente não tem muito a comemorar —embora deva ser reconhecida sua contribuição para a agenda econômica.
Deixará o cargo como um recordista em matéria de rejeição e, ao que tudo indica, encontrará dificuldades para prosseguir na vida pública. Sem a prerrogativa de foro, vê-se na contingência de responder a processos na primeira instância da Justiça, como a enorme maioria dos cidadãos.
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