Flávio Freire | O Globo
Desde o final da eleição presidencial, o PSDB tem mantido neutralidade em relação à administração do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Ao mesmo tempo, mostra disposição em dar as mãos ao governo na tentativa de aprovar a reforma da Previdência, uma das principais bandeiras da nova administração federal. Também já deu sinais de que vai reforçar o apoio à reeleição do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), mais uma vez em sintonia com o novo governo.
A sintonia com a administração federal é mais visível por parte da trinca tucana de governadores eleitos — além de João Doria (SP), Reinaldo Azambuja (MS) e Eduardo Leite (RS). Líderes históricos do partido, no entanto, mantêm críticas à figura de Bolsonaro.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda antes da posse, foi contundente. Disse que o atual presidente faz parte de “forças raivosas”. Vem daí um dos motivos pelos quais muitos tucanos têm evitado, em alguma medida, dar apoio público ao presidente eleito.
A postura em relação ao governo Bolsonaro é só mais um capítulo da divisão interna no partido, presente praticamente desde a fundação da sigla, mas escancarada durante a eleição do ano passado —quando o então presidenciável Geraldo Alckmin e o candidato ao governo paulista, João Doria, antes aliados, trocaram farpas públicas e veladas. Pós-eleição, os dois chegaram a a discutir em uma reunião entre líderes do partido, quando Alckmin insinou que Doria o traiu durante a campanha.
A tendência é que a tensão se intensifique nos próximos meses, quando o partido começar a discutir a sucessão interna —a eleição ocorrerá em maio. Presidente do PSDB desde dezembro de 2017, Alckmin teve conversas com líderes do partido para frear o movimento que havia para tentar abreviar sua permanência no cargo.
Conversou com Doria, inclusive, num jantar pós-eleição e os dois aparentemente chegaram a um consenso para que o tema só será decidido de fato em maio. Fortalecido após a vitória nas urnas, o governador paulista quer emplacar um aliado seu, o deputado Bruno Araújo, para comandar o PSDB.
Desde que sentou na cadeira de governador, Doria tem feito críticas cada vez mais explícitas ao PSDB e a administrações tucanas anteriores à sua no estado. No discurso de posse, disse textualmente que o partido precisa estar “sintonizado com o novo Brasil”.
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