sábado, 12 de janeiro de 2019

Alvaro Costa e Silva: Os galinhas-verdes

- Folha de S. Paulo

Falta um repórter como Joel Silveira para retratar os novos integralista

Agosto de 1937. Joel Silveira morava em frente à sede nacional da Ação Integralista Brasileira, em cujo balcão do terceiro andar postava-se Plínio Salgado, camisa verde, braçadeira com o sigma, braço erguido e mão direita espalmada para cima, esgoelando-se em infindáveis discursos. “Anauê! Anauê!”, vibrava o povo lá embaixo.

No esplêndido livro de memórias “Na Fogueira”, Joel não só retrata o líder integralista como dá testemunho dos acontecimentos políticos de então, que não poderiam ser mais imprevisíveis. Os camisas-verdes e os comunistas se enfrentavam nas ruas a socos e pedradas, e a Polícia Especial de Filinto Müller se aproveitava para baixar o sarrafo em todo mundo, até em quem nada tinha a ver com a história. Valendo-se da confusão, Getúlio deu o golpe que instalou o Estado Novo.

Logo a censura mostrou suas garras. O Departamento de Imprensa e Propaganda passou a dispor do controle de importação do papel linha d’água, utilizado por jornais e revistas. Péssima notícia para o repórter Joel, que se defendia com biscates, pulando de uma Redação a outra e vivendo em pensões. Por sorte, numa delas ele encontrou uma quarentona de seios fartos, que se compadeceu do jovem sergipano em necessidade (na época, pesava só 52 quilos e usava bigodinho).

Na revista Dom Casmurro, conheceu Graciliano Ramos (de quem se tornou amigo), Jorge Amado, Oswald de Andrade, José Lins do Rego, Marques Rebelo, Murilo Mendes, Aníbal Machado, Álvaro Moreyra. E havia o bar 49, na Lapa, onde o chope, geladíssimo, custava 400 réis!

Tempos interessantes aqueles vividos por Joel Silveira. Os nossos também estão prometendo. Até o movimento integralista está de volta, como mostrou reportagem de Marco Rodrigo Almeida na Folha. Seus líderes não usam mais uniformes. Ao menos em público. Melhor assim: serem chamados de galinhas-verdes era uma crueldade.

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