terça-feira, 2 de abril de 2019

Joel Pinheiro da Fonseca: Brasil paralelo

- Folha de S. Paulo

Vale a regra geral: tudo que é bom é de direita; tudo que é mau, de esquerda

Na Idade das Trevas em que o Brasil ficou sob a hegemonia do comunismo (período que vai de 1500 a 2018), a verdade era sufocada e a inteligência corrompida. Verdades elementares, como a de que o nazismo foi um movimento de esquerda, ficavam restritas a fóruns anônimos e blogs clandestinos.

Mas com a nova era que se inicia, a opinião dissidente de rede social foi promovida a posição oficial do governo. Podemos finalmente reconhecer: sim, o nazismo é de esquerda. Com a palavra, a lógica impecável do blog do chanceler Ernesto Araújo: "O nazismo era anticapitalista, antirreligioso, coletivista, contrário à liberdade individual, promovia a censura e o controle do pensamento pela propaganda e lavagem cerebral, era contrário às estruturas tradicionais da sociedade. Tudo isso o caracteriza como um movimento de esquerda."

O argumento é referendado por autoridades intelectuais do quilate de um Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). É, portanto, coisa séria. Por coerência, devemos aplicar a mesma lógica a outros movimentos e regimes da época. A Itália de Mussolini era muito similar ao nazismo. Logo, o fascismo era de esquerda. O Japão Imperial, a Espanha de Francisco Franco, tinham várias das características citadas por Araújo. Foram todos, portanto, esquerdistas, por mais que a esquerda busque esconder essa verdade inconveniente.

Falando em Espanha, a esquerda tem longa tradição por aquelas terras. O reinado de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, por exemplo, também foi esquerdista: eram antissemitas (assim como os inimigos de Israel e de Bolsonaro hoje), implementaram a Inquisição espanhola, eram contrários à liberdade individual, praticavam a censura e o controle de pensamento, e apostavam na propaganda para se promover como reis "católicos". Marcas inegáveis de esquerdismo.

Vale a regra geral: tudo que é bom é de direita; tudo que é mau, de esquerda. Simples assim. Se você gosta de crianças felizes, de relações familiares harmônicas, de gente trabalhando, de bandido morto, da pátria amada, de democracia e de Deus no coração, você é de direita. Se você, por outro lado, prefere vidas destruídas pelas drogas, bebês abortados, burocracia, tiranos e vagabundos matando cidadãos de bem, então você é de esquerda.

Vejam nossa ditadura militar, vendida como "de direita" por doutrinadores profissionais. Sim, é verdade que ela impediu a revolução comunista que João Goulart preparava para o 2 de abril de 1964. Por trás da máscara, contudo, como é que nossa ditadura se comportou? Impôs a censura, limitou a democracia, fez propaganda, torturou e matou pessoas, apostou no investimento público e no protecionismo, criou empresas estatais. Tudo isso a caracteriza como um movimento de esquerda. E quem a celebra é esquerdista também.

A esquerda está em todos os cantos, disfarçada das maneiras mais insuspeitas, conforme ensinado por Gramsci. E pode voltar a qualquer momento. Fiquemos alertas. Imaginem que horror se a esquerda voltar e o Brasil eleger um presidente que louve a tortura e a ditadura; que hostilize a imprensa e aposte no controle das massas pela retórica populista e a propaganda em redes sociais; que seja contra as liberdades individuais; que divulgue práticas sexuais bizarras ao grande público; que entregue seu governo a um pequeno núcleo de revolucionários. Se um presidente desse tipo chegar ao poder, não tenha dúvida e grite: "Fora, esquerdista!".

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