O resultado da indústria em maio confirmou as expectativas pessimistas para a economia no primeiro semestre. A produção industrial caiu 0,2% em relação ao mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Parte do crescimento de 0,3% de abril foi anulado. Em relação a maio de 2018, houve um salto de 7,1%, mas deve-se levar em conta que a base de comparação é o mês da greve dos caminhoneiros, que praticamente paralisou as atividades em todo o país. No acumulado do ano, a queda é de 0,7% e, em 12 meses, o resultado está zerado.
A indústria de transformação recuou 0,5% em maio, na comparação com abril, e o resultado final só não foi pior porque a extrativa avançou 9,2% compensando apenas parcialmente a forte queda acumulada em 25,6% nos quatro primeiros do ano, dos quais 9,5% apenas em abril. Analistas atribuem a melhora da indústria extrativa à retomada da produção de minério de ferro em minas que tiveram a produção interrompida após o acidente de Brumadinho e em jazidas no Estado do Pará, onde fortes chuvas haviam forçado paradas em várias localidades, e ao aumento de 3,2% da produção no setor de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis, que interrompeu dois meses consecutivos de queda.
Como analisa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), embora tenha contribuído para a intensidade da queda da indústria, o mau desempenho recente do setor extrativo é só uma parte do problema. A indústria de transformação também mostra tendência declinante no acumulado em 12 meses. A fraqueza é generalizada e sustenta a previsão de nova queda do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria no segundo trimestre, depois de ter caído 0,7% no primeiro trimestre, mais do que a baixa de 0,2% do PIB geral. A indústria da transformação representa mais da metade do PIB industrial, enquanto a extrativa, pouco menos de 14%. Entre as categorias econômicas, houve avanço na produção de bens de capital (0,5%) e de bens intermediários (1,3%) em maio, na margem. O aumento da produção de bens de capital é considerado positivo porque é associado aos investimentos, mas a produção de insumos da construção civil recuou 0,9%. Por outro lado, a produção de bens de duráveis recuou 1,4%; e a de bens de consumo semiduráveis e não duráveis encolheu 1,6%.
Dos 26 ramos da manufatura analisados, 18 registraram queda na produção, sobressaindo o recuo de 2,4% em veículos automotores, reboques e carrocerias, que devolveram parte do avanço de 6,4% de abril. Contribuições negativas relevantes vieram de bebidas, cuja produção caiu 3,5%; couro, artigos para viagem e calçados, 7,1%; outros produtos químicos, 2%; produtos de metal, 2,3%; produtos de minerais não-metálicos, 2,1%; e produtos diversos, 5,8%. O IBGE nota que todos reverteram os ganhos de abril.
Dados da Anfavea antecipam a continuidade da queda da produção de veículos em junho, de 9%, explicada principalmente pela retração das exportações para a Argentina, em consequência da crise no país vizinho, maior mercado externo para o automóvel brasileiro. A queda das compras argentinas chegou a 46,4% no primeiro semestre, levando a Anfavea a reduzir as estimativas para o ano de 590 mil para 450 mil veículos exportados.
A desconfiança das famílias e das empresas, o desemprego elevado, as dúvidas em relação ao avanço das reformas e à retomada da economia, além da crise na Argentina, explicam o quadro de fraquezas. Acredita-se que nem a esperada aprovação da reforma da Previdência vai mudar o cenário. Já há previsões de que a indústria caiu mais 1% em junho.
Mas há algum otimismo para o segundo semestre dado que a aprovação das novas regras da aposentadoria deve abrir espaço para maior equilíbrio fiscal e redução - ou ao menos estabilização - da dívida pública. O movimento também deve animar a retomada da redução dos juros básicos, que pode alavancar o consumo e moderadamente os investimentos. O governo ainda acena com pacote de medidas de estímulo à atividade econômica e com a continuidade das reformas, começando pela tributária. A tarefa não é fácil. No balanço final, calcula a Goldman Sachs, a produção industrial voltou ao nível de 15 anos atrás, para o patamar registrado entre junho e julho de 2004; e está nada menos do que 17,5% abaixo do pico de maio de 2011.
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