- Folha de S. Paulo
Não à toa presidente anda com a popularidade no volume morto
Jair Bolsonaro subiu a rampa do Planalto há seis meses, mas seus gestos fazem crer que não lhe caiu a ficha do cargo que ocupa.
É o chefe do governo e do Estado, mas se comporta como um agente fora deles, a sabotar suas instituições, tal qual um ser marginal na política.
Quer que a população se arme para se defender da violência que, como mandatário, tem a missão de enfrentar com políticas de segurança.
Rebela-se contra comandos constitucionais, a exemplo da demarcação de terras indígenas e quilombolas.
Boicota o já combalido aparato de fiscalização do país ao denunciar uma indústria de multas no trânsito e na área ambiental, buscando reduzir a vigilância e anistiar infratores.
Na semana passada, exaltou a exploração de mão de obra infantil, a despeito do esforço das delegacias do trabalho para tirar crianças de carvoarias e cruzamentos.
Investe também contra a atividade de órgãos como o IBGE, cujo cálculo do desemprego chama de enganoso.
O traje de atirador se ajusta bem a um candidato antissistema, mas agora Bolsonaro é o próprio sistema e cabe a ele mostrar o que veio edificar, não só o que pretende desconstruir. O presidente não tem projeto e terceiriza suas responsabilidades.
Enquanto se mete em picuinhas como a do fim da tomada de três pinos e faz lives sobre pescaria, o Congresso conduz a reforma da Previdência à sua revelia e iniciou a tramitação da tributária. Câmara e Senado preparam uma agenda paralela à do Planalto, com foco na economia.
Intramuros, o governo é manejado por quem não tem assento no governo. Um ideólogo de teses delirantes, radicado nos EUA, dá as cartas na Educação à míngua. E os filhos do presidente indicam companheiros de balada para bancos públicos.
Não é à toa que Bolsonaro anda com a popularidade no volume morto. Já fala em 2022, mas, aos seis meses com a faixa, tem a pior avaliação de um presidente desde Collor, segundo o Datafolha. Para 61%, fez menos do que se esperava. E só 22% acham que age como lhe cabe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário