- Folha de S. Paulo
Sem as baixarias do atual conflito diplomático entre Brasil e França, a Guerra da Lagosta acabou em samba de breque
A Guerra da Lagosta foi espetacular. Nela, não se disparou um tiro de canhão, nenhuma bomba explodiu, nem se registrou fogo amigo. Em compensação, cunhou uma frase histórica. A qual até hoje irrita os patriotas e alimenta os descontentes: “Le Brésil n’est pas un pays sérieux” —o Brasil não é um país sério—, boutade do general De Gaulle.
O lance foi o seguinte: em 1962, deu-se um incidente diplomático provocado pela presença de barcos franceses em águas brasileiras. Na época, não havia o mar de 200 milhas —donde, em tese, as lagostas poderiam ser pescadas. Um almirante daqui afirmou que crustáceo não era peixe, ao que a imprensa de lá respondeu com a pergunta: lagosta nada ou anda? Só se andasse é que ela estaria em território proibido.
O presidente João Goulart chegou a preparar uma esquadra para expulsar os invasores. Kid Morengueira foi mais rápido no gatilho e fez um samba de breque para encerrar a questão: “A Lagosta é Nossa”, que incluiria no LP “O Último dos Mohicanos”, de 1963.
Diz a letra: “Fique sabendo/ Conosco não tem bandeira/ Vai zarpando de carreira/ Se não quer virar peneira/ No meu quadrado/ Neca de levar pescado/ Pra seu ragu/ Dou-lhe um filhote de urubu/ Meu litoral não é casa de Mãe Joana/ Você não gosta de lagosta à la Suzana/ Lhe ofereço uma maré de baiacu/ Dou-lhe de quebra/ Filhote de surucucu”.
País sério por país sério, tudo acabou em samba —e não ao som de “La Marseillaise”. Aliás, nem a famosa frase seria de De Gaulle. Foi coisa de brasileiro mesmo: o diplomata Carlos Alves de Souza. Ao menos, é o que ele revelou na sua autobiografia “Um Embaixador em Tempos de Crise”.
Diante de mais um atrito diplomático —envolvendo até deboches com a primeira-dama francesa—, qual cantor sertanejo irá responder a Emmanuel Macron, que chamou Bolsonaro de mentiroso, com todas as letras e fazendo biquinho?
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