- O Estado de S.Paulo
O nome Aliança pelo Brasil remete à Arena, o partido da ditadura militar
A decisão do clã Bolsonaro de sair do PSL e patrocinar a criação de um partido é uma consequência natural daquilo que se convencionou chamar de bolsonarismo. Trata-se de um fenômeno recente, sobre o qual não há ainda estudos aprofundados. Mas a respeito do qual já se pode dizer que é um movimento político que busca se contrapor a governos social-democratas, como os de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff, atribuindo-lhes erroneamente uma tendência socialista ou comunista.
O bolsonarismo é ainda um movimento que busca misturar valores cristãos (aqui não importando se a fé é católica ou protestante/evangélica) com o fortalecimento da estrutura familiar baseada nos pilares homem/mulher, uma forte presença militar e repressão aos crimes sem a necessidade da observância, por parte do Estado, de regras consagradas por declarações e avanços em favor do respeito aos direitos humanos.
Assim como o lulismo idolatra a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o transforma em dogma e o isenta do pecado, o bolsonarismo faz o mesmo com a figura do presidente Jair Bolsonaro. A diferença é que Lula ainda não é o anti-Bolsonaro, embora queira ser. Bolsonaro sim. Sem dinheiro, sem tempo de TV e sem partido, conseguiu vencer uma eleição declarando-se o anti-Lula.
Portanto, a decisão de Bolsonaro e seu clã de formar um novo partido é mais do que coerente. Incoerente seria permanecer no PSL, uma legenda usada por Bolsonaro para se candidatar em 2018, como poderia ter usado outra.
O PSL, além de ter uma sigla trava-línguas, é um partido sem nenhum apelo popular. Não se vê por aí alguém batendo no peito e dizendo que é pesselista. O que se vê entre os bolsonaristas é alguém batendo no peito para dizer que segue Bolsonaro.
O partido bolsonarista, que se chamará Aliança pelo Brasil, tem um nome que se encaixa muito bem na idolatria a Bolsonaro e na sua forma de pensar a política. O Aliança remete à Arena, o partido que deu sustentação parlamentar à ditadura militar, e que se chamava Aliança Renovadora Nacional. Nos seus bons tempos, a Arena misturava a elite política e empresarial e oficiais das Forças Armadas que se aventuraram na política.
Assim como acontece nos movimentos criados em torno de uma pessoa, o Aliança pelo Brasil deverá se tornar a herança que Jair Bolsonaro deixará para seus filhos. O deputado Eduardo Bolsonaro (SP), que não conseguiu a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, como planejado, poderá ser o presidente da nova legenda. Isso, caso consiga costurar um acordo no PSL para deixar o partido sem perder o mandato por infidelidade. Se houver esse risco, o presidente deve ser o senador Flávio Bolsonaro (RJ). Nenhum bolsonarista vai reclamar.
O poder da informação
Quanto mais informação um político tem, mais poder ele acumula. Pode prever, por exemplo, a movimentação de amigos e adversários, pode formalizar alianças impensáveis, pode abortar ações que considera perigosas para seu futuro e o futuro de seu grupo.
Nesse sentido, não há como desconhecer que o presidente do STF, Dias Toffoli, tem acumulado poder. Depois de suspender investigação contra o senador Flávio Bolsonaro que utilizava dados do Coaf e da Receita liberados sem autorização judicial, ele pediu e recebeu do Banco Central relatórios sigilosos mencionando 600 mil pessoas, 412,5 mil físicas e 186,2 mil jurídicas. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, há integrantes da família Bolsonaro citados. Da Receita, Toffoli obteve ainda dados relativos a investigações sobre 6 mil contribuintes. Tudo no contexto da liminar concedida ao senador Flávio. Toffoli não é político. É juiz. Pode fazer a solicitação. O que não o impede de ganhar poder.
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