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Política com viés
De duas, uma. Ou escapou à atenção do mais gigantesco sistema de segurança jamais montado em Brasília a ação de um grupo de venezuelanos que tomaram de assalto a embaixada do seu país a poucos quilômetros de distância do Palácio do Planalto, ou então eles contaram para isso com o apoio velado do governo brasileiro.
A segunda hipótese é a mais provável. A região central de Brasília está sob ocupação militar desde que desembarcaram na cidade os presidentes da China, Rússia, Índia e África do Sul, países que juntamente com o Brasil fazem parte do BRICS, o bloco das economias emergentes. Até o espaço aéreo foi interditado.
Para o governo de Jair Bolsonaro, quem preside a Venezuela é Juan Guaidó, o deputado venezuelano autoproclamado presidente do seu país, e não Nicolás Maduro que sucedeu a Hugo Chávez. E foram apoiadores de Guaidó que invadiram a embaixada criando um fato político de larga repercussão internacional.
Por algumas horas, o governo Bolsonaro silenciou diante do que acontecia. Foi tempo suficiente para que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o Zero Três do pai, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, escrevesse no Twitter que a invasão se justificava plenamente.
Maluquice! Ou ignorância de quem se achava credenciado até outro dia para ser embaixador em Washington. O Brasil assinou todos os tratados onde consta que o espaço de uma embaixada é território estrangeiro. Uma extensão do país que aloja, ali, seus funcionários. A polícia só pode pôr os pés por lá se for chamada.
A ONU alertou o governo brasileiro para a gravidade do episódio. O chanceler do governo Maduro manifestou-se no mesmo sentido. Apesar do cerco policial à embaixada, militantes do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) e deputados do PT conseguiram entrar para aumentar o salseiro.
Bolsonaro queria pôr Guaidó frente a frente com os chefes de Estado em visita ao Brasil – mas eles se recusaram. A Rússia e a China têm boas relações com Maduro. A Índia e a África do Sul não querem se meter em assuntos alheios. Depois de 13 horas, os invasores abandonaram a embaixada pelas portas do fundo.
Política externa com viés ideológico dá nisso. Nada muito diferente do que já deu na época em que o país foi governado pelo PT.
O grande mudo quebra o silêncio
A ordem do dia
Ao contrário do seu antecessor, o general Eduardo Villas Bôas, que gostava de falar e que pelo menos uma vez pressionou o Supremo Tribunal Federal para que negasse habeas corpus pedido por Lula, o general Edson Leal Pujol pôs uma trava na língua desde janeiro passado quando assumiu o comando do Exército.
Em julho, baixou uma norma para frear o ativismo político de soldados e oficiais nas redes sociais. Vinculou suas manifestações ao que está “fielmente prescrito no Estatuto dos Militares e no Regulamento Disciplinar do Exército”. E para dar o bom exemplo, fechou suas contas no Twitter e no Facebook.
Quando o presidente francês Emmanuel Macron criticou o governo brasileiro por causa das queimadas na Amazônia, e Villas Bôas, agora como assessor do Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República, falou em “ameaça de guerra”, Pujol tirou por menos. Disse à saída de uma visita ao Congresso:
– A França é um país de tradição de liberdade e de democracia. Certamente não há motivos para nós nos sentirmos ameaçados.
Pois bem: às vésperas de mais um aniversário da Proclamação da República, o mudo voltou a falar. Numa curta ordem do dia com apenas sete parágrafos, valeu-se três vezes da palavra “profissão” ou “profissionalismo” para caracterizar e exaltar a missão do Exército.
[…] foi com o advento da República que o Exército atingiu sua maioridade institucional, assim entendida como a afirmação de seu profissionalismo, requisito indispensável para manter-se à altura da estatura político-estratégica da Nação.
[…] Com efeito, a juventude militar não aristocrática formada na Praia Vermelha após a Guerra do Paraguai, adepta da meritocracia e empolgada pelo cientificismo positivista, via na monarquia um anacronismo a retardar a modernização do Brasil e, consequentemente, a profissionalização do Exército.
[…] Mediante a assimilação de atributos, tais como organização, articulação, planejamento estratégico, doutrina, ensino, instrução, treinamento, serviço militar, política de pessoal e liderança, essenciais ao profissionalismo de uma força armada, o Exército se consolidaria como genuína instituição republicana, síntese da nacionalidade.
E concluiu:
Transcorridos 130 anos de experiência republicana, os integrantes do Exército de hoje encontram-se empenhados em um processo de transformação com vistas à obtenção de novas capacidades para o cumprimento de renovadas missões. Mas mantém o compromisso legado pelas gerações passadas, calcado no culto à liberdade e à democracia e no amor à Pátria, o que confere ao Exército os mais altos índices de credibilidade junto à Nação brasileira.
O dono dos segredos da República
Abuso de autoridade
O ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, passou a ser o guardião dos segredos mais cobiçados da República desde que pediu e obteve cópias de todos os relatórios de inteligência financeira (RIFs) produzidos pelo antigo Coaf (hoje UIF) nos últimos três anos.
Trata-se de informações sigilosas que envolvem cerca de 600 mil pessoas (412,5 mil físicas e 186,2 mil jurídicas), muitas delas expostas politicamente e com prerrogativa de função, segundo o jornal Folha de S. Paulo. Toffoli alega que precisa entender o procedimento de elaboração e tramitação dos relatórios.
Bancos e instituições afins são obrigados a informar ao UIF (ex-Coaf) a existência de movimentações financeiras atípicas. Isso não significa necessariamente que os autores das movimentações tenham cometido algum crime. Há familiares do presidente Jair Bolsonaro citados nos relatórios que Toffoli recebeu.
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