- Folha de S. Paulo
Prefeito do Rio assiste a colapso no setor há quase um ano e, agora, pede piedade
Nos primeiros dias do ano, Marcelo Crivella disse que os usuários da rede pública de saúde deveriam ter paciência. Faltavam médicos e equipamentos nos hospitais, e as organizações sociais que geriam outras unidades estavam sem receber dinheiro do município. O prefeito afirmou que havia pedido ajuda a Deus para resolver o problema.
Eleito com um slogan em que prometia "cuidar das pessoas", Crivella continuou no Palácio da Cidade pelos 12 meses seguintes, mas só conseguiu agravar o colapso no setor.
O prefeito teve o ano inteiro para resolver um problema básico de administração. Preferiu desperdiçar o tempo com apelos populistas, como o envio de escavadeiras para destruir uma praça de pedágio na zona oeste ou a censura abjeta a uma história em quadrinhos na Bienal.
Enquanto Crivella produzia espetáculos tacanhos, sua gestão criou um rombo de R$ 325 milhões no caixa das unidades de saúde geridas por associações privadas. Sem receber salários, funcionários terceirizados das clínicas pararam de trabalhar.
Crivella trocou o pedido de paciência por um clamor por misericórdia. Numa clara demonstração de incompetência, ele pediu autorização ao Tribunal Superior do Trabalho para fazer uma gambiarra fiscal. O prefeito queria usar dinheiro destinado a investimentos para o pagamento de pessoal, o que é proibido.
"Pede-se, por piedade, que se examine com urgência este pleito", escreveu o município no pedido ao TST.
O Rio não precisaria recorrer a um jeitinho se Crivella tivesse se dedicado a organizar as contas e dar atenção à cidade em vez de perder tempo com jogadas de marketing. Segundo cálculos da Defensoria Pública e do Ministério Público, o município deixou de aplicar R$ 2 bilhões em saúde nos últimos três anos.
No meio desse show de inabilidade, o prefeito voou a Brasília para pedir socorro a Jair Bolsonaro. Crivella, que busca o apoio do presidente para disputar a reeleição, gravou um vídeo em que dizia estar "trabalhando muito" na capital. Tenha dó.
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