“O populismo não é o melhor substituto do globalismo liberal, evidentemente. O retorno a um nacionalismo pré-Muro de Berlim, combinado com discursos baseados num moralismo fascistóide – pois persegue minorias e alimenta a intolerância – e em promessas de um ´governo forte´, constitui uma fórmula que vai aprofundar a crise, em vez de resolvê-la. Para além do front interno, o modelo populista vai gerar grande instabilidade geopolítica no mundo, atingindo aquilo que a globalização obteve de estabilidade internacional, ainda que ela não se estenda a todo o planeta.
O desafio maior hoje, portanto, está em criar outra alternativa que, que passe, de um lado, por novos pactos nas democracias que garantam uma combinação ótima entre a produção de riqueza e sua redistribuição, e, de outro, por reformulações na globalização, para os aspectos positivos da integração internacional sejam acompanhados de uma redução da assimetria entre os países.
Uma possibilidade seria pensar numa socialdemocracia vinculada aos desafios do século 21. Claro que ela teria conformação diferente nos diversos espaços nacionais, levando em conta a história e a assimetria entre os países De todo modo, sua agenda seria uma renovação da ideia reformista que a instituiu: um pacto pluriclassista capaz de balancear melhor a produção capitalista com o combate à desigualdade. Foram muitas as mudanças que precisam ser levadas em consideração, com destaque para as seguintes:
- Transformações tecnológicas, que mudaram o panorama de comunicação e organização do trabalho no mundo, tornando as pessoas mais conectadas, mas também mais individualizadas;
- Transformações demográficas, com o envelhecimento da população global;
- Transformações culturais, das quais surgiram novas demandas por igualdade, em terreno como o gênero, a etnia, a orientação sexual etc.;
- Transformações na distribuição econômica da riqueza entre as nações, ampliando o mercado mundial para todo o globo, criando mais riqueza, mas produzindo novas formas de desigualdade”.
*Cf. Construindo uma alternativa aos extremos: proposta de modernização do Estado brasileiro. In coletânea As esquerdas e a democracia, organizada por José A. Segatto, M. Lahuerta e Raimundo Santos. Brasília: Verbena Editora/FAP, dezembro de 2018.
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