- O Globo
Os saudosistas da censura entraram em 2020 com a corda toda. A Justiça do Rio proibiu a exibição de um especial de humor. Em nome de Jesus, crucificou o Estado laico
Os saudosistas da censura entraram em 2020 com a corda toda. Em Brasília, a TV Brasil mutilou uma reportagem para omitir a prisão de jornalistas na ditadura. No Rio, um desembargador mandou retirar do ar um vídeo do Porta dos Fundos.
O bolsonarismo prometia extinguir a emissora do governo federal. No poder, abandonou a ideia para reforçar seu uso político. O presidente entregou a EBC a um general e um coronel. Sob comando militar, a programação radicalizou o tom chapa-branca.
A censura ao programa “Fique Ligado”, revelada pela repórter Paula Ferreira, dá uma ideia da situação da TV Brasil. Uma reportagem sobre a história do jornal “O Pasquim” foi cortada para omitir a prisão de jornalistas na ditadura. No grupo que foi em cana, estavam Ziraldo, Paulo Francis e Jaguar.
No episódio do Porta dos Fundos, entrou em cena a tesoura judicial. O desembargador Benedicto Abicair proibiu a exibição da paródia bíblica, como noticiou o colunista Ancelmo Gois. Na decisão, ele alegou que a sociedade brasileira é “majoritariamente cristã”. Em nome de Jesus, ressuscitou a censura e crucificou o Estado laico.
A ação contra os humoristas foi movida pelo Centro Dom Bosco, que diz formar “soldados de Cristo” para “atuar na cultura defendendo a fé verdadeira”. Religiosos podem defender qualquer bandeira, mas juízes só devem defender a Constituição. No artigo 220, ela afirma que “é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”.
O desembargador Abicair já protestou contra a criação do Conselho Nacional de Justiça. Sua atuação como magistrado mostra como o órgão é necessário. Ao decidir contra o Porta dos Fundos, cuja produtora sofreu um ataque a bomba, ele disse que pretendia “acalmar ânimos”. Com essa desculpa, praticou outro atentado contra a liberdade de expressão.
O bloco da censura tem um porta-bandeira no Planalto. O capitão já tentou asfixiar o cinema, as universidades e a imprensa independente. Agora ele quer interferir no conteúdo dos livros didáticos.
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