sábado, 25 de janeiro de 2020

Julianna Sofia - Marcola, Moro e Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Patamar de desentendimentos entre presidente e ministro muda. Moro 2022?

Dois dias após a fuga de detentos do PCC de uma prisão no Paraguai, o Ministério da Justiça de Sergio Moro montou uma espetaculosa operação policial para escoltar o chefe da facção, Marcola, de um presídio federal em Brasília para um hospital da cidade para exames de rotina. Pouco usual, a ação serviu de lembrete à organização criminosa sobre quem detém a chave do cárcere de seu líder máximo.

A demonstração de força irritou as autoridades locais. Numa sequência de notas e ofício, o Governo do Distrito Federal e o ministério de Moro trocaram ataques sobre a permanência de presos de grosso calibre na capital e a ameaça potencial à segurança da população. Sem firulas, o Ministério da Justiça reafirmou o sigilo da operação de escolta e declarou que o único a incomodar-se com o quadro atual é o próprio GDF.

Um ofício ríspido encaminhado a Moro foi assinado por Anderson Torres, secretário de Segurança local. Ele é apontado como pivô da mais recente crise entre o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro mais popular. Torres, delegado afastado da Polícia Federal, almeja voltar à instituição para comandá-la. Na campanha para assumir o cargo, trabalha pela cisão do Ministério da Justiça e da Segurança em dois órgãos, com esvaziamento das funções de Moro.

O delegado já fora vetado para o cargo pelo ministro. Com o retorno da pasta da Segurança, um deputado aliado de Torres e amigo de Bolsonaro seria o favorito para chefiar o ministério, garantindo ao secretário o posto desejado. Num encontro extra-agenda na quarta (22), Bolsonaro e Torres confabularam sobre o tema da recriação —pleito defendido por secretários estaduais.

Agora, e por ora, o presidente rechaça a ideia, diante da repercussão contrária ("a chance no momento é zero, não sei o amanhã"). Mas o episódio avoluma a coleção de rusgas entre o mito e Moro, elevando o patamar dos desentendimentos.

Há quem interprete em recentes atos do ministro uma estratégia de descolamento político rumo a 2022.

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