APNAD Covid-19 de junho, do IBGE, mostrou que auxílios e benefícios emergenciais atingiram mais pessoas que no mês anterior - 104 milhões de pessoas moram em domicílios em que pelo menos alguém recebeu recursos dos programas de sustentação de renda. Há dados menos favoráveis, que indicam tendências a prevalecer nos próximos meses. O número de pessoas afastadas pela pandemia caiu e o desemprego subiu. Quem está trabalhando trabalha por menos horas do que antes, o que indica um hiato a ser preenchido até que as empresas precisem de mais pessoas para o serviço. Os números do IBGE deixam também no ar a possibilidade de que a imunidade adquirida ao coronavírus possa ser maior do que o imaginado até agora, com um percentual da população imunizada pelo contato com o vírus mais extensa do que a que aparece nos resultados das testagens realizadas.
Como o Brasil testou e testará pouco, o grau de disseminação da covid-19 é uma incógnita, que só permite suposições. Os dados do IBGE abrem margem a algumas delas (a instituição não fez nenhuma). Como os sintomas são assemelhados ao de uma gripe, é preciso vários deles para o diagnóstico da covid-19.
Relataram ter um dos sintomas - febre, tosse, dor de garganta, dor de cabeça, coriza e outros - 24 milhões de pessoas em maio e 15,5 milhões em junho, meses em que não ocorre o pico de infecções que atingem as vias respiratórias, no inverno. Supondo-se uma sobreposição de 50% (a mesma pessoa apontou o sintoma nos dois meses), há algo como 25 milhões de pessoas (11,7% da população) que podem ter tido contato com o vírus e desenvolvido reações atenuadas, sem necessitar de maiores cuidados.
O IBGE inquiriu sobre os sintomas conjugados, os mais associados à covid-19: perda de cheiro ou de sabor; ou tosse e febre e dificuldade para respirar; ou tosse e febre e dor no peito. Relataram esses sintomas 4,24 milhões de pessoas em maio e 2,39 milhões em junho, ou 6,7 milhões de pessoas.
Uma parte delas está nas estatísticas oficiais, pois 1 milhão de pessoas esses sintomas em junho (e 1,3 milhão no mês anterior) foram buscar cuidados médicos (basicamente no SUS e postos de saúde). 57 mil tiveram de ser internadas. As proporções se assemelham ao grau de gravidade atribuído ao novo coronavírus. A saber, do total de casos, 5 dos infectados são casos mais graves, que necessitam de cuidados especiais. A soma total dos infectados desde o ingresso da covid-19 no país em março foi de 2,227 milhões até anteontem.
Os dados sugerem que a imunização por contato com o vírus possa ser maior, pela distribuição dos grupos etários que apresentaram sintomas mais parecidos com os da covid-19. Pelo menos 40% das pessoas com mais de 60 anos tiveram de ser internadas. Embora não haja menção à internação de outras faixas, sabe-se 34,4% dos que apresentaram características associadas à doença tinham entre 0 e 29 anos e 54,8% entre 30 e 59 anos. Assim, das 57 mil internações, 22,8 mil foram dos grupos de maior risco e as demais devem ter se distribuído majoritariamente nas pessoas entre 30 a 59 anos, pois sua proporção entre os suspeitos de infecção é superior ao de sua participação demográfica (54,8% ante 41,3%).
A PNAD Covid corrobora de alguma forma o recrudescimento do contágio no Centro-Sul e no Sul, duas regiões até há pouco relativamente poupadas pela pandemia. O percentual dos que relataram sintomas conjugados despencou no Norte à metade, de maio para junho, caiu significativamente no Nordeste, caiu discretamente no Sudeste, mas não se mexeu no Sul e subiu no Centro-Oeste. Pode ser uma evidência fortuita, mas o aumento do número de pessoas com algum sintoma em junho serviu de indicador antecedente do avanço do contágio observado com força em julho no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Estados em que o coronavírus não provocara tantos estragos até pouco tempo atrás.
O período pós-pandemia se aproxima e trará em dois meses o fim da cobertura dos programas de proteção, que atingiu avançou para a 43% do total de domicílios do país e 85% dos lares com renda até R$ 242 reais. O rendimento efetivo dos trabalhadores em junho foi 16,6% menor que o rendimento habitual, com ligeira melhora. A taxa de desocupação está em alta, subiu a 12,4% em junho e continuará subindo à medida que a mais pessoas saiam em busca de emprego.
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