Folha de S. Paulo
Perspectiva de mais altas da Selic pinga
mais uma gota de azedo no ano eleitoral de 22
Desde agosto do ano passado, a média das
taxas de juros de mercado para financiamento de imóveis anda em torno de 7,7%,
perto das mínimas históricas. A informação mais recente dessa estatística
compilada pelo Banco Central é de abril. O custo do dinheiro para comprar casa
vai ficar nessa paz? Hum. O custo de financiar um carro já começou a subir, na
média.
O BC tem elevado a sua taxa
básica de juros (Selic) de modo acelerado e o andar da carruagem pode
ser ainda mais rápido. Em março, a Selic era
de 2% ao ano. Na semana passada, foi
a 4,25%. A expectativa era de que fosse
a 6,5% no fim deste 2021. Na exposição de motivos para alta da Selic da
semana passada (“Ata do Copom”), publicada nesta terça-feira (6), há indícios
de que vá além, talvez 7%, isso se a inflação e riscos altistas não forem
atenuados.
Uma alta de 5 pontos percentuais na Selic em 10 meses deve contaminar as taxas do financiamento imobiliário. Algum repasse haverá. Apesar de a competição dos bancos por clientes desse setor ter aumentado, o custo da “matéria prima” bancária, o “custo de captação”, do dinheiro, terá dado um salto considerável. Mas a questão aqui não é futurologia sobre o mercado imobiliário, mas um exemplo menos abstrato de que o aperto monetário do Banco Central deve chegar ao varejo do crédito e, portanto, deve abalar perspectivas de crescimento em 2022, tudo mais constante.
O capital de giro do pequeno empresário vai
ficar, além de salgado, azedo. Já encarecido por filas, alta de custos e
restrições de produção, o carro vai ficar ainda mais caro por causa do
financiamento. Etc.
Considerado o histórico de taxas de juros
no Brasil, é muito improvável que essa campanha de altas da Selic chegue ao
menos perto do nível onde essa taxa estava em novembro de 2016 (14% ao ano).
Mas a alta vai pesar no ano que vem, em uma economia que mal terá recuperado
as perdas
de 2020, que ainda não recuperou as perdas de 2015-2016, que despiora em
ritmo muito desigual e criando ainda mais desigualdade.
A “Ata do Copom” enfatizou que o BC
pretende levar a inflação à meta de 3,25% em 2022 (a deste ano será estourada
além do teto). Além disso, explicitou que a diretoria discute aumentar o ritmo
de altas da Selic, dos já rápidos 0,75 ponto percentual por reunião para
(segundo especulação de gente mais animada na praça) 1 ponto já em agosto.
O fato de a dívida pública estar subindo
menos (graças principalmente à inflação) e o dólar estar
zanzando agora em torno de R$ 5 não refrescam o cenário de inflação,
pressionado ainda por eletricidade em alta, alta de custos da indústria (até
por falta de insumos) e, claro, porque a economia se recupera mais rápido do
que o esperado do buraco em que caiu em 2020.
Para que fique claro, a perspectiva de os
juros talharem parte do crescimento é para o ano que vem, embora aqui e ali em
2021 vá se sentir o efeito direto do aperto monetário.
No “balanço de riscos” das perspectivas eleitorais de Jair Bolsonaro, pesam, pois, elementos novos. De um lado, a despiora rápida do PIB prevista para 2021 vai provocar grande alívio para boa parte da população. Por outro, a inflação da comida terá efeito duradouro sobre a renda dos mais pobres, a conta de energia vai pesar mais (afora a tensão da conversa sobre risco de racionamento) e, definitivamente, a alta de juros no atacado vai aparecer nos financiamentos do varejo. É mais incentivo para Bolsonaro apressar seus “pacotes sociais”.
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