Blog do Noblat / Metrópoles
A história esquisita da compra superfaturada da vacina indiana contra a Covid-19 que não chegou ao Brasil até hoje
“Filhos da pátria”, berrou ao telefone,
ontem à tarde, o presidente Jair Bolsonaro, ao saber que senadores da cúpula da
CPI da Covid-19 pretendem convocar para depor nesta sexta-feira os irmãos Luís
Miranda, deputado federal pelo DEM do Distrito Federal, e Luís Ricardo
Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde.
(Não foi bem “filhos da pátria” o que
berrou Bolsonaro, e ouviu acidentalmente um funcionário do Palácio do Planalto.
Foi outra coisa parecida com isso. E não foi um reles funcionário do palácio
que ouviu, muito menos por acidente. Foi o graduado titular de um dos gabinetes
próximos ao do presidente.)
Lázaro Torres, o serial killer, está no mato repleto de cachorros à sua caça, alguns deles, por seu apurado faro, importados de outros Estados. Bolsonaro parece estar no mato sem cachorro desde que os irmãos Miranda decidiram contar à CPI o que sabem sobre a compra da vacina indiana Covaxin.
Em depoimento ao Ministério Público
Federal, Luís Ricardo Fernandes disse que o governo fez pressão para a compra
da vacina indiana e para favorecer a Precisa Medicamentos, empresa que
intermediou a compra. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Luís Miranda, o deputado,
disse que seu irmão chegou a ser demitido.
“Situação esdrúxula. Absurdo o que estavam tentando fazer. Era grave a situação”, disse Miranda. O governo fechou o contrato de compra da vacina por um preço 1.000% maior do que o anunciado pela fabricante seis meses antes. Miranda procurou o então ministro Eduardo Pazuello para reverter a demissão do irmão.
“Fui despachar com o Pazuello e falei que
ele (Luís Ricardo)
estava sendo exonerado porque estava denunciando um esquema de corrupção. Vou
explodir na mídia se fizerem isso com o garoto”, ameaçou o deputado, contando a
conversa que teve com o general. Que lhe teria respondido:
– Luís, eu não estou sabendo do caso, mas,
se de fato não tiverem nada, o chefe dele não tiver nada que comprove alguma
coisa contra ele, vou dar sem efeito a exoneração.
Pazuello suspendeu a demissão. Todas as
vacinas em uso no Brasil foram compradas diretamente pelo governo federal aos
seus fabricantes – menos a Covaxin. A Precisa Medicamentos está na mira da CPI
que quebrou os sigilos de um de seus sócios. Ela já foi acusada de fraude na
venda de testes para a Covid-19.
Sobre o mato sem cachorro em que se acha
Bolsonaro: o governo pagou mais pela vacina indiana do que por qualquer outra.
Em novembro último, Bolsonaro disse que não pagaria qualquer preço pela
Coronavac, vacina chinesa. A dose da Coronavac custou ao país R$ 58, enquanto a
Covaxin saiu por R$ 80.
Em janeiro, antes do acerto, Bolsonaro
escreveu uma carta ao primeiro-ministro indiano para informar que a Covaxin
havia sido escolhida para o programa de imunização brasileiro. A entrega das
primeiras doses foi prevista para maio. Nenhuma chegou até hoje. O depoimento
dos irmãos Miranda vai bater recorde de audiência.
Se não for candidato a presidente,
Jereissati poderá apoiar Ciro
É impensável que o Ceará, ou qualquer outro
Estado do seu porte, tenha dois candidatos a presidente com chances de vencer
É bom prestar atenção no que diz o senador
Tasso Jereissati (PSDB-CE). Outro dia, ele disse que o PSDB poderá apoiar um
candidato de outro partido na eleição presidencial de 2022
Jereissati é um dos três nomes que deverão
disputar as prévias do PSDB em novembro próximo. Dali sairá o candidato do
partido à sucessão do presidente Jair Bolsonaro.
Com o que disse a respeito do apoio a um
nome de fora do PSDB, ele pode estar pretendendo apenas enfraquecer João Doria,
governador de São Paulo, favorito a ganhar as prévias.
O terceiro nome seria o do governador
Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul. Mas nem Leite nem Jereissati são
páreo duro para Doria. Jereissati tem problemas de saúde.
E enfrenta também no seu Estado um problema
político chamado Ciro Gomes, candidato do PDT. Dois candidatos de um mesmo
Estado a presidente da República seriam um pouco demais.
De resto, Jereissati e Ciro são bons
amigos. Ciro entrou na política pelas mãos de Jereissati. Pela quarta vez,
concorrerá à presidência. Se perder, encerrará a carreira.
As coisas já estiveram melhores para Ciro,
mas aí surgiu a candidatura de Lula e tomou-lhe o espaço da esquerda. Resta a
Ciro avançar sobre o espaço da direita.
Acontece que o espaço da direita estará
congestionado com as candidaturas de Bolsonaro, de Doria e de quem mais
aparecer. Como Jereissati negaria apoio a um nome do seu Estado?
É com isso que conta Ciro. A conferir até o fim do ano – ou antes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário