O Estado de S. Paulo
Bolsonaro não vai a Glasgow para não enfrentar hostilidade pela imagem de vilão do meio ambiente
A Conferência sobre Mudança Climática
(COP26) é um teste de liderança. É papel dos governantes convencer as
populações de que os sacrifícios para conter o aquecimento hoje são necessários
para evitar sofrimento maior no futuro. Entretanto, a COP-26 começa com um
déficit de liderança generalizado.
O presidente dos EUA, Joe Biden, não
conseguiu, antes de viajar, desatar o nó dentro da própria bancada democrata
para encaminhar a aprovação na Câmara do pacote de US$ 1 trilhão para
infraestrutura convencional, que por sua vez abriria caminho para a apreciação
dos programas sociais e ambientais no valor de US$ 1,75 trilhão – reduzido à
metade do montante inicial de US$ 3,5 trilhões.
O presidente da China, Xi Jinping, nem sequer vai à conferência, por causa das múltiplas crises que enfrenta em casa: escassez de energia – causada em parte pela brusca redução do uso do carvão –, estouro da bolha do setor imobiliário e desaceleração econômica. Vladimir Putin também ficará em Moscou, para enfrentar o surto de covid-19, que está mais uma vez fora de controle na Rússia.
O primeiro-ministro Fumio Kichida, do Japão, enfrenta eleições hoje. E o mexicano Andrés Manuel López Obrador não é de viajar. Tudo isso abriria espaço para a liderança brasileira. O presidente Jair Bolsonaro se converteu à causa da preservação da Amazônia com a cúpula promovida por Biden, em abril, e o crescimento das pressões externas e internas.
O orçamento dos órgãos ambientais subiu de
R$ 228 milhões, no início do ano, para R$ 498 milhões, e foram contratados 739
novos fiscais. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) é o único no governo a
contratar servidores. O desmatamento da Amazônia caiu 14% entre julho e
setembro.
Bolsonaro lançou, na segunda-feira, o Plano
Nacional de Crescimento Verde, que envolve R$ 411 bilhões e a articulação de 11
ministérios. Na quinta-feira, porém, uma nova iniciativa recolocou o Brasil na
defensiva: 60 países aderiram à meta de cortar 30% das emissões de metano em
2020 até 2030.
O Brasil não tem como aderir: pelo padrão
mundial, 27% das emissões causadas pela atividade humana provêm da pecuária e
9%, do arroz irrigado. O programa Agricultura de Baixo Carvão incluiu, na
segundafeira, tecnologias de redução das emissões do gado bovino. Mas, como
tudo nessa área, os resultados demoram a aparecer.
Bolsonaro também não vai a Glasgow, para
não enfrentar hostilidades em razão de sua imagem de vilão do meio ambiente.
Cabe ao MMA e ao Itamaraty restaurar o protagonismo do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário