O Globo
Neste domingo, 3,1 milhões de estudantes
começam a prestar o Exame Nacional do Ensino Médio. A prova terá o menor número
de participantes desde 2005. Isso significa que a porta de acesso às
universidades públicas ficou mais estreita.
O encolhimento não é a única face do
retrocesso. Responsável pelo exame, o Inep já teve cinco presidentes em três anos.
Agora vive uma crise sem precedentes. No início do mês, 37 servidores pediram
exoneração. Relataram casos de assédio moral, quebra de sigilo e ingerência
político-ideológica.
Desmoralizar o Enem é um projeto antigo de Jair Bolsonaro. Em 2015, o então deputado já atacava a prova. Dizia que o questionário expunha jovens indefesos à “doutrinação imposta pelo PT”. Seis anos depois, ele faz no Planalto o que acusava os adversários de fazer.
O Enem de 2021 foi preparado num ambiente
de intimidação. Um policial desfilou pela sala restrita onde o exame é
formulado. Servidores contaram ao Fantástico que foram obrigados a cortar mais
de 20 questões. Elas tratavam da história recente do país, que o capitão e seus
generais tentam reescrever.
Segundo a Folha de S.Paulo, o presidente
pediu que a prova chamasse o golpe militar de “revolução”. A revista Piauí
revelou que as intromissões começaram em 2019, quando o Inep vetou perguntas
que citavam Chico Buarque e Ferreira Gullar. Nem Mafalda, a simpática
personagem dos quadrinhos, escapou da censura bolsonarista.
Os crimes contra o Enem são premeditados.
Integram um projeto de desmonte da educação, cujo alvo principal são os jovens
de baixa renda. O dublê de ministro e pastor Milton Ribeiro já declarou que as
universidades deveriam “ser para poucos”. Seu colega Paulo Guedes reclamou do
“filho do porteiro” que recebia bolsa para estudar.
A visão excludente combina com o perfil da
prova deste ano. O número de inscrições desabou porque os estudantes pobres
ficaram mais tempo sem aulas na pandemia. Muitos tiveram que abrir mão do sonho
para batalhar pelo sustento. Outros desistiram por saber que seriam reprovados.
Na segunda-feira, Bolsonaro disse que o
Enem está começando a ter “a cara do governo”. Desta vez, é preciso reconhecer
que ele tem razão.
O ʽbandoʼ de Valdemar nos diários
de FH
Valdemar Costa Neto não tem defeitos novos.
Antes de oferecer o PL a Bolsonaro, ele fez negócios com os governos Lula,
Dilma e Temer. Só enfrentou resistência na gestão de Fernando Henrique Cardoso.
Nos “Diários da Presidência”, o tucano
descreve a “pressão chantageadora” do chefão do PL. “Só vai lá [ao Planalto]
pedir nomeações para posições onde ele possa ter vantagens, e vantagens
alegadamente pecuniárias. É inacreditável”, desabafou, em agosto de 1995.
Três meses depois, FH escreveu que as
indicações do PL não podiam ser atendidas por “falta de gente competente e que
seja honesta”. Ele reclamou dos métodos de pressão do partido: “Usam um fato
nacional para poder extorquir algo do governo. É lamentável”.
Em abril de 2001, o tucano definiu os
deputados liderados por Valdemar como “um bando”. O grupo ameaçava apoiar a
criação de uma CPI se não fosse presenteado com cargos federais. “Queriam a
direção da Petrobras, ou seja, ficar próximos de uma boa boca”, ironizou o
presidente.
Depois que FH deixou o poder, Valdemar nunca mais esteve na oposição.
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