Folha de S. Paulo
Gasto com servidor civil caiu, militares teve
aumento e se calam com a ruína geral do governo
Jair Bolsonaro disse que reajustaria o
salário de todos servidores federais. Ministros e governismo em
geral disseram que não há dinheiro. Bolsonaro levou invertida até do centrão.
Claro: se saísse o aumento, não sobraria
nada para financiar emendas parlamentares extras.
Bolsonaro então quer dar aumento pelo menos
para militares e
policiais federais. Sempre teve mentalidade de vereador das milícias
e sindicalista militar.
O gasto federal com salários de servidores
civis (na ativa) caiu sob Bolsonaro. Desde o começo de 2020, quanto este
governo passou a ter força maior sobre o Orçamento, essa despesa diminuiu 8% em
termos reais (descontada a inflação; gasto anualizado), de fato um
espanto. A despesa com
o pessoal militar na ativa aumentou 5,5%, porém.
A baixa da despesa civil se deve à
combinação de redução de quadros com congelamento salarial. Pode até ser que o
enxugamento tenha a ver com algum plano de aumento de eficiência, não mero
arrocho improvisado (este jornalista não encontrou análise independente que
faça balanço do período).
Por que a despesa com o pessoal militar da
ativa aumentou? Porque receberam aumento especial de Bolsonaro. Por que não
houve enxugamento por outras vias? Cerca de 6 mil militares fazem um extra no
governo. Não deve estar faltando gente nas Forças Armadas.
Bolsonaro cumpre partes essenciais de seu programa. Dá dinheiros e boca rica para militares. Faz propaganda da ditadura militar e de torturadores. Quer levar esse revisionismo bárbaro até para provas de vestibular.
Prometeu que ocuparia o governo com os
bucaneiros da floresta, sua versão da doutrina militar da "soberania nacional"
sobre a Amazônia. Missão cumprida. O país regrediu 15 anos no controle do
desmatamento, fora a razia nas instituições de preservação ambiental.
Levou uma década para o país conter parte
do bota-abaixo amazônico. Quando Lula da Silva (PT) tomou posse, 2003, iam para
o chão 25 mil quilômetros quadrados de floresta por ano. Em 2014, eram 5 mil
quilômetros quadrados, ainda um horror, mais que o triplo da área da cidade de
São Paulo. Nos últimos 12 meses, se foram 13 mil quilômetros quadrados, outro
ano de recorde bolsonarista. De quebra, o governo escondeu os
números para Bolsonaro não causar ainda mais revolta na reunião
do clima na Escócia.
Isso é coisa de ditadura, como foi coisa de
ditadura esconder o número diário de mortes na epidemia por tempo bastante para
que não aparecessem no "Jornal Nacional" da Globo, em 2020, ideia dos
generais da morte do Planalto e da Saúde. Os meios de comunicação se juntaram e
passaram a publicar a estatística, como fazem até hoje.
A educação está sob o comando de
obscurantistas e fanáticos que desmontam o ministério e se dedicam a barrar
perguntas de vestibular com motivos que parecem os dos censores da ditadura
militar. O Ministério Público e o Tribunal de Contas da União enfim vão dar uma
olhada nas atrocidades do ministério.
Quando se fala em polícia no governo
Bolsonaro, ou se trata de incentivo a motim ou de investigação sobre
interferências indevidas. Programa de segurança pública? É um cadáver que
Sergio Moro levou consigo quando foi posto para fora do governo. Não nasceu
outro.
Os oficiais-generais que ficaram nos
quarteis agora se dizem "decepcionados" com Bolsonaro, que não eram
bolsonaristas, apesar da esteira que leva generais do Alto Comando do Exército
ao Planalto. Agora são moristas.
Sim, este é também um governo do partido
militar, na boquinha e na ideologia, sócio do centrão. Os generais ficaram
quietos. Tentam sair de fininho da casa que ajudaram a explodir. Levam intactos
os aumentos de salário.
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