quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Uirá Machado: Confiança na democracia

Folha de S. Paulo

Ataques às urnas eletrônicas minam confiança na democracia

Na cabeça de Jair Bolsonaro (PL), o grupo político que controla as urnas eletrônicas escolheu perder em 2018. Essa deve ser a explicação para o fato de ele ter chegado à Presidência por meio de uma ferramenta que, nas suas palavras, "não é da confiança de todos nós".

As investidas de Bolsonaro não são novidade. Há muito ele se enreda num ciclo vicioso em torno do sistema eleitoral. De um lado, alimenta-se de teorias conspiratórias da internet, todas sem comprovação; de outro, abastece a mesma internet com ataques reiterados.

Segundo uma interpretação benevolente, Bolsonaro está apenas mobilizando seus seguidores mais fanáticos às vésperas de uma disputa em que, a julgar pelas pesquisas de opinião, ele tem boas chances de sair derrotado.

Os protestos de raiz golpista do ano passado, nessa leitura, jamais representaram risco real para o país. Afinal, para citar o bordão consagrado, as instituições estão funcionando.

Mas será que Bolsonaro está apenas mobilizando sua tropa para tentar vencer o processo eleitoral? E se seu alvo estiver além, no momento posterior à contagem dos votos?

A democracia, de acordo com uma definição minimalista, é um regime no qual os perdedores aceitam sua derrota. Eles podem chorar, espernear e esbravejar, mas não recorrem à violência para questionar o resultado.

Dito de outra forma, democracia é uma guerra civil sem a guerra, afirma David Runciman em "Como a Democracia Chega ao Fim". O fracasso, diz ele, ocorre quando as batalhas simbólicas se transformam em batalhas reais.

Runciman, assim como outros pensadores da política, chama a atenção para um aspecto frágil da democracia: o elemento que a mantém viva, no fundo, é a confiança.

Ou seja, pessoas que perderam nas urnas têm de acreditar que mais vale a pena esperar até o próximo ciclo eleitoral para disputar o poder do que tentar tomá-lo pela força.

Claro que, nessa equação, não se trata apenas de querer tomar o poder. Querendo, é preciso dispor de meios para enfrentar resistência. Armas, por exemplo, costumam ser um bom instrumento nas mãos de quem quer recorrer à violência para desafiar qualquer resultado.

Quando Bolsonaro questiona a lisura do sistema eleitoral brasileiro, ele antecipa a possibilidade de não aceitar eventual derrota e procura minar o elemento que sustenta a democracia: "a confiança de todos nós".

"As instituições estão funcionando" é uma pergunta velha. O que importa agora é: se Bolsonaro perder, você tem 100% de certeza de que ele vai aceitar o resultado? Uma hesitação antes da resposta diz mais sobre a saúde da democracia do que muitos gostariam de admitir.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Ele já disse que só Deus tira ele de lá,e morto.
Isto porque ele não me conhece,eu tiro na vassourada,rs.