quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Bernardo Mello Franco: o capitão vai à guerra

O Globo

Jair Bolsonaro desembarcou em Moscou. Vai conhecer o inverno russo e experimentar a comida do Kremlin. Esnobado pelos líderes ocidentais, o capitão tenta se enturmar com Vladimir Putin. É a opção que resta para disfarçar seu isolamento internacional.

O presidente inaugurou a era da antidiplomacia. Nomeou um chanceler que não passaria no psicotécnico, hostilizou países amigos e investiu na bajulação a Donald Trump. Quando o republicano foi derrotado, Bolsonaro endossou a mentira da fraude nas urnas. Expôs o Brasil ao ridículo e virou persona non grata na Casa Branca.

A visita à Rússia ocorre num mau momento. Putin moveu tropas para a fronteira e ameaça invadir a Ucrânia. O capitão nunca esteve tão perto de uma guerra de verdade. Mas há exagero na tese de que ele deveria ter cancelado a viagem, marcada meses antes da crise militar.

A Rússia é parceira do Brasil no G20 e nos Brics. Tem 140 milhões de habitantes e consome apenas 0,6% das nossas exportações. O Brasil pode estreitar as relações com Moscou sem tomar partido no conflito. Basta focar no interesse nacional, como reza a tradição do Itamaraty.

Na segunda-feira, dois pré-candidatos usaram a viagem para atacar Bolsonaro. Ciro Gomes o acusou de fazer “turismo com recursos públicos”. Sergio Moro disse que o presidente tem a “incrível capacidade de estar no lugar errado e na hora errada”. Pode ser, mas há pouco tempo ele o tratava como o homem certo na hora certa.

Ciro e Moro apostam na tática do franco-atirador, compatível com quem vai mal nas pesquisas. Na campanha de Lula, o tom é mais pragmático. O ex-chanceler Celso Amorim chegou a defender a caravana. Ele sabe que os líderes passam e os países ficam: é preciso pensar na diplomacia do pós-Bolsonaro.

O principal risco da viagem não está nas armas, e sim na língua do presidente. Nos últimos dias, líderes de Argentina, França e Alemanha passaram pelo Kremlin. Nenhum deles saiu com a pecha de marionete de Putin. Se não se meter na crise alheia, o capitão também deve escapar ileso. E ainda pode convencer sua tropa de que ajudou a evitar a Terceira Guerra.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Moro criticando Bolsonaro não cola,como se diz no popular.