O Globo
O presidente tenta vários golpes contra a
democracia. Com a PEC do vale tudo eleitoral, ele está sendo autorizado a
movimentar os cofres públicos em proveito da sua própria candidatura. Com as
ameaças renovadas de que militares agirão contra o processo eleitoral, ele quer
fazer crer que tem o poder de movimentar as tropas. Com a ajuda da equipe
econômica, Bolsonaro já deu o golpe nas leis fiscais do país, teto de gastos,
Lei de Responsabilidade Fiscal, lei orçamentária. Ao atacar a Petrobras, ele
tenta golpear as leis econômicas. Seu golpismo é generalizado.
O golpe da semana passada foi disparado no coração da lei eleitoral, que determina que os governantes não podem usar os cofres públicos para se beneficiar no ano da eleição, criando benefícios sociais. A Constituição está sendo mudada para permitir que até o fim deste ano essa lei eleitoral não valha e que também não se cumpra o teto de gastos e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Para que nenhum risco paire sobre Bolsonaro, inventou-se o estado de emergência. Não há emergência, há incompetência do governo que não soube administrar o país, nem agir diante do aumento da pobreza já visível no ano passado, quando ele suspendeu o Auxílio Emergencial. Tanto não há que no mesmo dia da votação no Senado o governo comemorou a menor taxa de desemprego em seis anos.
Bolsonaro teve muita ajuda neste golpe à
lei eleitoral. O Senado aceitou passar o rolo compressor bolsonarista por cima
do regimento. E poucos minutos separaram a votação do primeiro turno da votação
do segundo. O PT votou a favor da PEC, apesar de ser um precedente perigoso que
ameaça um dos valores da democracia, o de que não haja favorecimento do governante
na disputa eleitoral.
O argumento do PT foi que ele não poderia
ficar contra a transferência de renda aos mais pobres. Era uma armadilha de
Bolsonaro, e o PT caiu. Em seu favor o partido disse que evitou os piores
pontos do projeto. Havia de fato vários jabutis. O relatório do senador
Fernando Bezerra autorizava o gasto de até 5% do valor do Auxílio Brasil para
operar os benefícios. Daria a bagatela de R$ 1,3 bi. Havia também um inciso do
fim do mundo estabelecendo: “a não aplicação de qualquer vedação ou restrição
prevista em norma de qualquer natureza” sobre aqueles recursos.
Esse valor estranho de pagamento para
administrar os recursos do Auxílio e essa suspensão completa de todas as leis
eram pontos tão radicalmente absurdos que a oposição, ao tirá-los, achou que
estava melhorando o projeto. A única coisa razoável a fazer com essa PEC era
rejeitá-la. Apenas o senador José Serra (PSDB-SP) o fez.
O governo tem dado golpes nas leis econômicas. Com a intervenção na Petrobras,
e eliminação ou redução de impostos, quer diminuir o preço do que é escasso. O
diesel está faltando em alguns países, há muita dúvida sobre o suprimento.
Deveria estar sendo feito neste momento uma campanha de redução do consumo de
diesel e de gasolina. Quando o preço fica baixo, pelo controle de preços na
Petrobras ou pela renúncia fiscal, o governo estimula o consumo.
O pior golpe que Bolsonaro executa à luz do
dia é o uso do espantalho de que as Forças Armadas vão intervir nas eleições.
Na semana passada, Flávio, o filho mais velho do presidente, fez essa
insinuação. O general Braga Netto, possível candidato a vice na chapa do
presidente, fez o mesmo em reunião com empresários no Rio, como informou a colunista Malu Gaspar. Braga Netto depois
negou, mas há um ano o “Estado de S. Paulo” publicou que ele havia feito a
mesma ameaça de não realização das eleições, em conversa com o presidente da
Câmara dos Deputados. Na época, o general também negou, mas o fez com uma nota
que praticamente confirmava a notícia. O atual ministro da Defesa, general
Paulo Sergio Nogueira, alimenta, com suas notas sobre o TSE, o fantasma da
intervenção militar.
Bolsonaro tem desprezo pela democracia. Conspira contra ela com as armas da Presidência. Não há apenas um golpe sendo armado. Há vários. Um deles é essa mudança na Constituição para que ele possa distribuir dinheiro público às vésperas das eleições. Deve ser aprovada esta semana pela Câmara com a mesma rapidez da votação do Senado. Esse é o golpe mais estranho, porque está sendo dado com a ajuda da oposição.
3 comentários:
Os ministros do STF estão todos com glaucoma, daí a impossibilidade de ver qualquer coisa sob seus narizes Toma jeito Brasil!!!
Só enxergam quando querem de acordo com o sabichao e ricaço Gilmar Mente
Espero que a câmara rejeite.
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