O Estado de S. Paulo
Bolsonaro está disposto a pagar qualquer preço para se manter na Presidência
Por que o real voltou a se depreciar depois
de uma contínua valorização, na qual passou de mais de R$ 5,60/US$ no fim de
2021, para R$ 4,60 em abril de 2022? Embora a depreciação recente tenha sido
ajudada pelo fortalecimento do dólar, que se acelerou com a decisão do Fed de
intensificar o aumento da taxa dos fed funds, esta é apenas uma parte da
explicação. A outra é o aumento do risco no Brasil.
Uma medida largamente utilizada para aferir o risco são as cotações do CDS de 10 anos. Apesar dos bons resultados fiscais de 2021 e início de 2022, as cotações do CDS brasileiro vêm crescendo, aproximando-se dos mesmos 450 pontos que foram observados em 2020, quando o déficit primário chegou a 10% do PIB e a dívida bruta, a quase 90% do PIB. Na América Latina, excluindo a Argentina, que luta para atender às condicionalidades impostas por um acordo com o FMI, a cotação de nosso CDS só não supera a da Colômbia, cuja crise levou à eleição de Petro.
Aumentos no risco fiscal contraem a demanda
por ativos brasileiros e depreciam o real, quer porque reduzem o ingresso de
capitais, quer porque elevam a demanda por hedge cambial. O que explicaria o
paradoxo de os riscos crescerem com o câmbio se depreciando com uma aparente
melhora dos resultados fiscais, vindos da arrecadação devida à inflação e ao aumento
dos preços de commodities?
A explicação está em que o risco não é
aferido apenas pelo resultado primário e pela dinâmica da dívida, mas pelas
consequências de decisões populistas que solapam os alicerces do arcabouço da
política econômica, e cujos resultados demoram a aparecer.
Não há espaço aqui para expor todas as
manifestações de populismo que levam a essa consequência, mas bastam três
exemplos para deixar claro o seu poder de destruição.
O primeiro é a absurda criação do orçamento
secreto. O segundo é a enxurrada de PECs elevando gastos com o único objetivo
de aumentar a popularidade do presidente. O terceiro é a tentativa de tornar
inócua a Lei das Estatais. O orçamento secreto é uma forma de encobrir a
corrupção, como a que se instalou na Petrobras durante o governo Lula.
Finalmente, a mudança na Lei das Estatais joga por terra a esperança de que a
Petrobras poderia se transformar em uma grande empresa cujo objetivo fosse
contribuir para o crescimento econômico através do aumento de sua eficiência.
Há em marcha um enorme retrocesso
institucional, e Bolsonaro está disposto a pagar qualquer preço para se manter
na Presidência.
*Ex-presidente do Banco Central e sócio da A.C. Pastore e Associados.
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