Editoriais / Opiniões
Atacar as fake News
Folha de S. Paulo
TSE acerta ao enfrentar a desinformação,
mas não pode descuidar da liberdade de expressão
Contra a proverbial lentidão da Justiça, o
ministro Alexandre de Moraes foi célere no último domingo (17) ao tomar
uma decisão
provisória a favor do PT, que contestava a divulgação de notícias
falsas em redes sociais de bolsonaristas.
Membro do STF (Supremo Tribunal Federal) e
próximo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Moraes estava no
plantão desta segunda corte quando determinou a remoção de conteúdos que, na
sua avaliação, não passavam de mentiras veiculadas com o propósito de
prejudicar Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Algumas das notícias derrubadas por
prescrição do ministro faziam conexões falsas entre a facção criminosa PCC, o PT
e o assassinato de Celso Daniel em 2002, quando era prefeito de Santo André
(SP) e filiado ao Partido dos Trabalhadores.
A ordem de Moraes também atingiu postagens que distorciam os fatos para dar a entender que o ex-presidente Lula teria igualado pobres a papel higiênico, ou então que associavam o PT ao nazismo e ao fascismo.
Entre os propagadores da desinformação
figuravam parlamentares como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os deputados
Hélio Lopes (PL-RJ), Otoni de Paula (MDB-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP), todos do
círculo próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Dado que Lula lidera
as pesquisas de intenção de voto para a Presidência da
República, não surpreende que bolsonaristas o transformem em alvo preferencial
de sua máquina de moer reputações.
Não surpreende, mas consterna. São
conhecidos os mecanismos de que lançam mão Bolsonaro e companhia em seu
vale-tudo pelo poder. A eleição de 2018 é um exemplo pronto e acabado; o
famigerado gabinete do ódio, instalado em pleno Palácio do Planalto, é outro.
Nada sugere que haverá mudança de
comportamento na disputa deste ano; na verdade, dá-se o contrário, como atesta
a insólita reunião de Bolsonaro com
embaixadores estrangeiros, convocada para que o presidente desfiasse
mentiras sobre as urnas eletrônicas.
Se o governante age dessa forma à luz do
dia e sob os olhares atentos da imprensa mundial, pode-se imaginar o que ele e
seu bando farão sob a égide do anonimato nas redes sociais. Decerto atuarão
como milícias virtuais, tendo como fim último conspurcar o debate público.
É bom saber que o futuro presidente do TSE
se empenha em afastar essas maquinações covardes e rasteiras. É bom que ele
busque proteger a liberdade do voto e o exercício da cidadania.
Mas é bom que, nesse mister, não perca de
vista a liberdade de expressão, também ela um traço fundamental das
democracias.
Espiral negativa
Folha de S. Paulo
Sem clareza sobre o futuro do
endividamento, sobem os juros e desvaloriza-se a moeda nacional
A imprevidência do governo de Jair
Bolsonaro tem enormes custos para o país. Novos gastos
eleitoreiros são mais um golpe na claudicante credibilidade da
política econômica. Inflação e juros em alta, com nefastas consequências
sociais, são o resultado direto.
Sem considerar as desonerações tributárias
oportunistas, como as isenções federais para reduzir os preços dos
combustíveis, o custo da farra de gastos já chega a R$ 150 bilhões desde o ano
passado.
Embora parcialmente compensadas pelo aumento
surpreendente da arrecadação, ele próprio derivado em grande medida
da inflação, as mudanças casuísticas nas despesas têm enorme consequência.
O dano se dá principalmente pela
sinalização de que não se pode confiar nas regras fiscais, concebidas para
evitar que um governo de plantão desequilibre o jogo eleitoral com benesses
populistas.
Desde que se intensificaram os ataques ao
teto de gastos inscrito na Constituição, foi praticamente revertida a tendência
de queda dos juros que vinha desde 2017.
Sem clareza sobre o que esperar em
horizontes mais longos, sobem os custos de financiamento do governo e
desvaloriza-se a moeda nacional. Depois de atingir 2% no auge da pandemia, a
taxa básica de juros (Selic) já chega a 13,25% e deve continuar a subir.
O arrocho monetário se torna a única
ferramenta contra a inflação, que não dá sinais de recuo relevante. Depois de
marcar 10,06% em 2021, o principal índice ao consumidor, o IPCA, deve subir
mais 8% neste ano.
Descontada a inflação esperada para os
próximos 12 meses, a chamada taxa real de juros está em 8,5%, apenas um pouco
abaixo do pior momento observado no final do governo Dilma Rousseff (9,6%).
Despesas maiores para rolar a dívida
pública estreitam a já diminuta margem no Orçamento. Longe de significar uma
conspiração de rentistas, tal dinâmica é resultado direto de escolhas
irresponsáveis do governo e do Congresso. Pior, os sinais são de que as
pressões nos preços
vão adquirindo caráter inercial, sempre difícil de debelar.
Será necessário um longo e penoso trabalho
de restauração da qualidade do processo orçamentário, o que dependerá de
reformas.
Sem um compromisso crível do próximo
governo de que não será permitida uma disparada do endividamento, de modo a
reverter as expectativas altistas para a inflação e os juros, não haverá
retorno do crescimento sustentável.
As férias do sr. Aras
O Estado de S. Paulo
Omissão atual é ainda pior que excessos pretéritos do MP. O PGR tem direito ao descanso, mas tem também o dever de trabalhar: há um regime democrático a ser defendido
O procurador-geral da República, Augusto
Aras, está de férias. Trata-se de um direito constitucional de todos os
trabalhadores. No entanto, no caso de Augusto Aras, há uma peculiaridade. Não é
fácil identificar a diferença entre seu período de trabalho e o de descanso.
Seria injusto, portanto, atribuir às férias de Augusto Aras o que ocorreu nesta
semana: a absoluta indiferença da Procuradoria-Geral da República (PGR) perante
o mais novo ataque do presidente Jair Bolsonaro contra as eleições e contra o
País. Se o procurador-geral da República não estivesse de férias, muito
provavelmente suas ações (ou, melhor dizendo, omissões) não seriam muito
diferentes.
Como se sabe, o presidente Jair Bolsonaro
utilizou uma reunião com embaixadores estrangeiros, no dia 18 de julho, para
dizer ao mundo que o Brasil não é uma democracia confiável, falar mal das
instituições nacionais e de políticos adversários e incentivar sua patota a não
respeitar o resultado das eleições. Segundo Jair Bolsonaro, as urnas
eletrônicas da Justiça Eleitoral são uma fraude. Não tem nenhuma prova, mas
acha-se no direito de disseminar desconfiança e revolta contra o sistema
eleitoral.
Ante esse ataque, o Brasil e o mundo
reagiram imediatamente. Os Estados Unidos emitiram nota atestando que as eleições
aqui são modelo para a comunidade internacional. Internamente, instituições
públicas e entidades civis manifestaram-se. No entanto, o procurador-geral da
República não viu no episódio nenhum motivo de alarde. Talvez tenha considerado
irrelevante o caso, tão irrelevante que não se deu ao trabalho de sequer emitir
uma mísera nota.
Depois de três dias, questionado pelo País
inteiro sobre qual seria a resposta da PGR, Augusto Aras afinal publicou, na
quinta-feira, um vídeo com trechos de falas suas, gravadas antes da reunião do
dia 18 de julho, expressando sua confiança no sistema eleitoral. Ora, a opinião
do sr. Aras é absolutamente irrelevante para o País; o que interessa são as
providências do procurador-geral da República contra essa intolerável ofensa do
presidente à democracia e ao Brasil. E essas providências não vieram.
Há um abismo entre o comportamento de
Augusto Aras e a missão institucional do Ministério Público, de “defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis”, como dispõe a Constituição. Perante uma escalada de ameaças e
ataques contra o sistema eleitoral por parte do presidente – uma situação de
contínua afronta à Constituição e à legislação eleitoral –, o procurador-geral
entendeu que bastava lembrar suas convicções pessoais. No tal vídeo, Aras diz
que não acredita que se repita no Brasil a invasão do Capitólio por seguidores
de Donald Trump, inconformados com a derrota do presidente americano na eleição
de 2020. E declara que não aceitará alegações de fraude.
O vídeo de Augusto Aras é tão constrangedor
quanto sua atuação como procurador-geral, total e deliberadamente alheio aos
fatos do País e às demandas da Constituição. Ou será que Augusto Aras entende
que é papel do presidente da República cuidar do funcionamento e da apuração
das eleições, envolvendo na empreitada o Ministério da Defesa? Será que o
procurador-geral da República não vê nenhum problema no uso das funções
públicas e da máquina pública por Bolsonaro para desacreditar as eleições e a
legislação eleitoral?
Augusto Aras pode não querer ver, mas todo
ataque de Jair Bolsonaro à Justiça Eleitoral é ataque direto à legislação
eleitoral, definida pelo Congresso. E isso constitui crime de responsabilidade.
É afronta às atribuições do Legislativo. É tentativa de interferência no
trabalho do Judiciário. É desrespeito às regras do jogo democrático.
Os excessos pretéritos do Ministério
Público – entre outros, performances midiáticas de procuradores e denúncias
ineptas baseadas em delações duvidosas – causaram muitos danos ao País, e seus
efeitos são ainda diariamente sentidos. Mas não se corrige excesso com omissão.
Há direito às férias, mas há também o dever de trabalhar. Há uma ordem jurídica
e um regime democrático a serem defendidos.
A Codevasf é uma farra
O Estado de S. Paulo
Sob Bolsonaro, a ‘estatal do Centrão’ é um festim com recursos públicos. PF deflagrou nova operação para apurar corrupção e enriquecimento ilícito envolvendo a empresa
A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do
São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) foi transformada em um sorvedouro de
dinheiro público nesse consórcio formado pelo presidente Jair Bolsonaro e o
Centrão, sob a liderança do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira
(PP-AL), e do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI). Nem uma
folha de papel é carimbada no mais remoto escritório da chamada “estatal do
Centrão” sem a anuência, no mínimo, de um dos dois chefões do grupo que
sustenta Bolsonaro no cargo à custa da cupinização da República, por meio da
privatização do Orçamento da União.
Há algum tempo o Estadão tem
revelado uma série de escândalos de corrupção num governo que Bolsonaro garante
ser imune à corrupção. Em larga medida, os casos passam pela Codevasf, a
começar pelo famigerado “orçamento secreto”, uma indecência desde o nome.
Criada em 1974 para viabilizar a construção de rodovias e executar projetos de
irrigação que visavam ao desenvolvimento econômico e social da região do Vale do
Rio São Francisco, a estatal, hoje vinculada ao Ministério do Desenvolvimento
Regional, foi bastante inchada no atual governo, a ponto de abranger projetos
obscuros – em geral, de pavimentação e compra de equipamentos – que chegam a
distar até 1,5 mil quilômetros das águas dos rios que a batizam. Cerca de mil
novos municípios, pasme o leitor, passaram a compor a área de atuação da
estatal recentemente.
Ou seja, a razão de existir da Codevasf,
que, a bem da verdade, já havia sido desvirtuada, chegou ao paroxismo nos
últimos três anos a fim de saciar interesses antirrepublicanos do grupo
político que ora está no poder. A ampliação do escopo de atuação da empresa, é
evidente, só favorece a corrupção.
O mais novo caso envolvendo a Codevasf foi
revelado no dia 21 passado. A Polícia Federal (PF) no Maranhão deflagrou uma
operação que investiga suspeitas de fraudes em licitações da empresa no Estado.
De acordo com a PF, uma “associação criminosa estruturada”, tendo a empreiteira
Construservice à frente, engendrou um “engenhoso esquema” de fraude em
licitações, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro que envolve cerca
de R$ 140 milhões. Apontado como sócio oculto da Construservice, Eduardo José
Barros Costa, conhecido como “Imperador”, foi preso temporariamente. Malas de
dinheiro vivo, joias e relógios foram apreendidos na casa do empresário.
A Codevasf tem uma longa história de
corrupção e fisiologismo nesses seus quase 50 anos de existência. No entanto,
foi justamente na vigência da aliança entre o presidente Bolsonaro e o Centrão
que seu orçamento foi robustecido em nível recorde: R$ 2,73 bilhões apenas no
ano passado. Grande parte desse montante é fruto de emendas parlamentares, daí
a posição estratégica que a estatal adquiriu no esquema do “orçamento secreto”.
Por meio de “convênios” com a Codevasf, parlamentares usaram esse dinheiro para
comprar veículos agrícolas, tratores e ônibus escolares, entre outros ativos,
por meio de contratos superfaturados. Os contratos firmados por meio de
convênios com a Codevasf estão sujeitos a escrutínios públicos bem menos
rígidos do que aqueles firmados por Ministérios, por exemplo.
No governo Bolsonaro, a Codevasf já foi
usada para contratar um sem-número de obras, algumas jamais executadas; outras,
a rigor, seriam de competência de governos estaduais.
Além do óbvio enriquecimento ilícito, o
objetivo do aparelhamento da Codevasf também é político. Trata-se de
transformar a estatal em um duto de recursos públicos que são mobilizados para
atender a interesses eleitorais muito particulares e localizados. Portanto, sem
prejuízo da responsabilização de parlamentares e agentes públicos por eventuais
crimes cometidos contra a administração pública, essa espécie de “privatização
branca” da Codevasf por uma grei de oportunistas é um ataque direto contra a
democracia representativa, na medida em que desequilibra a disputa eleitoral
por favorecer, em detrimento de outros candidatos, o grupo político que já
detém o poder.
Incúria perigosa
O Estado de S. Paulo
Falha do Exército ao emitir registro de CAC para integrante do PCC presume descontrole na licença para ter armas
O Primeiro Comando da Capital (PCC), a mais
poderosa e perigosa organização criminosa em atuação no País, com ramificações
na América Latina e Europa, já promovia o terror, em São Paulo e no Brasil,
mesmo tendo acesso a armas e munições somente por meio ilegal. Agora, contudo,
aparentemente o bando está prestes a adquirir capacidade de aumentar seu poder
de fogo por meios legais, ludibriando as autoridades.
Uma pequeníssima amostra desse pesadelo foi
dada há poucos dias, quando veio a público a notícia de que um integrante da
facção criminosa conseguiu obter do Exército, em junho de 2021, um certificado
de registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) apresentando
documentos falsos. De posse do certificado, o homem comprou um pequeno arsenal,
no valor de quase R$ 60 mil: duas carabinas, duas pistolas, dois revólveres e
um fuzil.
É extremamente grave essa falha do
Exército, sobretudo porque era muito fácil saber que o sujeito não tinha a
menor condição de ter acesso ao armamento.
De acordo com o juiz José Humberto
Ferreira, da Justiça Federal de Uberlândia (MG), que expediu o mandado de busca
e apreensão das armas no âmbito da Operação Ludibrio, deflagrada pela Polícia
Federal (PF), bastava “uma simples consulta no Google” para ver que o comprador
era réu em nada menos do que 16 ações criminais, uma delas pelo crime de
homicídio qualificado. “Causa espécie verificar que os responsáveis no Exército
Brasileiro pela apreciação de pedidos administrativos foram enganados e
emitiram um certificado de CAC em favor de um representado sem, sequer, fazer
uma pesquisa de vida pregressa”, afirmou o juiz em seu despacho. “Uma simples
consulta no Google em nome de X acenderia uma luz amarela, a indicar que outras
diligências teriam de ser tomadas”, disse o magistrado, cuja estupefação
certamente é a mesma de todos os brasileiros.
Ora, não é à toa que o Exército é o
responsável por autorizar a compra de armamento controlado por civis. É o
Exército que tem expertise nesse tipo de controle. Se esse controle falha, o
que resta? A investigação da Polícia Federal, neste caso particular, funcionou,
e as armas foram apreendidas. Mas, é lícito inferir, quantos outros processos
de emissão de certificado de CAC podem ter falhado?
É preciso destacar que o erro não decorreu
de lacuna na legislação, que é bem clara ao impedir que cidadãos com
antecedentes criminais possam adquirir armas de fogo, sobretudo armamento
controlado. A falha talvez tenha decorrido da sobrecarga do Exército em virtude
do aumento exponencial dos pedidos de emissão de certificados de CAC no governo
do presidente Bolsonaro. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, o número de CACs registrados em 2022 no Sistema de Gerenciamento
Militar de Armas (Sigma) é dez vezes maior, pasme o leitor, do que cinco anos
atrás.
Nada de bom haveria de vir dessa fixação de
Bolsonaro por armas de fogo e pelo armamento desenfreado da população. Se o
fácil acesso a armas já era preocupante nos casos envolvendo civis
bem-intencionados, mais aflitivo é quando bandidos passam a explorar as
vulnerabilidades do sistema de controle.
Nova legislação estadual e federal ameaça
Pantanal
O Globo
Lei do Mato Grosso incentiva desmate — e
tramita em Brasília projeto para excluir o estado da Amazônia Legal
Pouco lembrado quando o assunto é
devastação florestal, Mato Grosso foi no primeiro semestre o estado com o maior
número de queimadas na Amazônia — 70% dos 5.200 focos detectados pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Muitos deles são de responsabilidade de
agricultores que usam o fogo para preparar o campo para o cultivo. Mas o
descaso com o meio ambiente vai além da atividade predatória e chega aos
gabinetes políticos. A Assembleia Legislativa em Cuiabá acaba de aprovar
Projeto de Lei para permitir a criação extensiva de gado, a exploração do
ecoturismo e do turismo rural em reservas legais no Pantanal, sob a oposição de
ambientalistas.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente,
Recursos Hídricos e Recursos Minerais da Assembleia, deputado Carlos Avallone
(PSDB), garante que as alterações feitas na Lei do Pantanal têm respaldo da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Não é bem assim. Nota
técnica da empresa informa que o uso de reserva legal só deveria ocorrer em
áreas de campo e Cerrado, apenas entre abril e junho, restrições que não
constam do projeto aprovado.
O meio ambiente mato-grossense também corre
risco no Congresso. Tramita Projeto de Lei do deputado Juarez Costa (MDB-MT)
para retirar o estado da Amazônia Legal. Caso seja aprovado, a obrigatoriedade
de manter como reserva 80% da floresta cairia para 20% e, segundo Herman
Oliveira, secretário executivo do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente,
haveria uma anistia para crimes ambientais.
O que acontece com o meio ambiente em Mato
Grosso termina ofuscado pela devastação metódica em curso no Pará e no
Amazonas, responsabilidade de madeireiros e garimpeiros ilegais que atuam
praticamente sem fiscalização durante o governo Bolsonaro. Com a maior área
destinada ao cultivo de grãos e a mais elevada produtividade do país, o estado
é um caso de sucesso no agronegócio e um desafio a quem defende a convivência
da preservação com o cultivo da terra.
Como mostra reportagem do GLOBO, Mato
Grosso converteu 13,7 milhões de hectares de floresta em pastos e áreas para o
plantio de grãos a partir da metade da década de 1980, de acordo com dados do
MapBiomas. Agora surgiu um novo ciclo de pressão para ampliar espaço para
agricultura e pecuária. “Mesmo tendo fazendas aptas a abastecer o mercado
internacional, muitos ocupam ilegalmente novas áreas para desmatar”, diz Ane
Alencar, diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Repete-se o conhecido enredo da destruição ambiental, apesar de ser sabido que
o Brasil pode ampliar sua produção agrícola por ganhos de produtividade, com a
recuperação de áreas desmatadas e sem destruir florestas e outros biomas.
Mato Grosso ainda abriga 30,9 milhões de hectares
da Floresta Amazônica, mas parte está degradada pela exploração de madeiras
cobiçadas no mercado. Do território, 21% estão protegidos por lei como reservas
indígenas ou ambientais — mas não livres da exploração predatória. Com três
bacias hidrográficas — do Amazonas, do Prata e do Tocantins-Araguaia —, Mato
Grosso é crucial para o Pantanal, para o Sul-Sudeste e abastece o Aquífero
Guarani, que se estende por Paraguai, Argentina e Uruguai. É inadmissível que a
legislação torne o meio ambiente no Pantanal ainda mais vulnerável.
Inflação e inépcia contribuem para
impopularidade recorde de Biden
O Globo
Democrata tem pior desempenho para esta
altura do mandato entre todos os presidentes desde a 2ª Guerra
A vitória de Joe Biden em 2020 sugeria que,
em contraste com Donald Trump, ele manteria ao menos parte do apoio com que
entrou na Casa Branca. O que se vê, porém, é um desgaste muito além do
esperado. Desde que alcançou o auge de 55% em março de 2021, a aprovação a seu
governo só caiu e está hoje pouco acima de 37% — a reprovação, acima de 57%. É
o pior desempenho de todos os presidentes a esta altura do mandato desde a
Segunda Guerra, segundo levantamento do site FiveThirtyEight.
Biden pode apontar a pior inflação em 40
anos como responsável pela insatisfação recorde entre os americanos. Mas, mesmo
para os democratas, Biden tem sido visto como um presidente sem a firmeza e a
habilidade imprescindíveis para governar. O cenário é desafiador em razão da
polarização e da maioria frágil que os democratas detêm no Congresso
(dependente do voto de desempate da vice, Kamala Harris, no Senado). O risco de
perder controle de Câmara e Senado nas eleições legislativas de novembro só tem
crescido.
A responsabilidade pela impopularidade não
cabe só às circunstâncias. As gafes sucessivas e as frustrações que se acumulam
demonstram a inépcia de Biden para lidar com problemas de toda ordem.
Emparedado, consumiu parcela razoável do primeiro ano e meio de governo em
negociações no próprio partido para viabilizar sua agenda. O resultado é
decepcionante.
No início do mandato, conseguiu aprovar
legislação para facilitar o combate à Covid-19 e lançou um pacote de
investimentos em infraestrutura de US$ 1 trilhão. Depois, todas as demais
iniciativas fracassaram, e sua popularidade desabou. Na derrota mais recente,
soçobrou o pacote de US$ 6 trilhões prevendo apoio a americanos de baixa renda,
articulado à transição para energias limpas e a uma reforma tributária
aumentando a taxação dos mais ricos. Era o projeto dos sonhos da ala esquerda
dos democratas. Na negociação, porém, Biden se viu forçado a reduzir a ambição
para US$ 1 trilhão — e nem assim conquistou o voto essencial, do senador
democrata da Virgínia Ocidental, estado produtor de carvão mineral.
Políticos que no início da pandemia
apoiavam mais gasto público e um governo mais ativo se tornam mais reticentes
com a inflação e o temor de recessão. Sem espaço no Congresso, Biden baixou por
decreto um programa modesto, de US$ 2,3 bilhões, para financiar projetos
ligados às mudanças climáticas, tentativa de sair do imobilismo. A iniciativa
deixa sua agenda exposta ao ativismo da Suprema Corte, que recentemente
suspendeu decretos ambientais de Barack Obama.
Biden deu outra demonstração de inépcia em viagem recente ao Oriente Médio. Em busca de petróleo barato, visitou a Arábia Saudita do príncipe Mohammed bin Salman, apontado pela CIA como mandante do assassinato e esquartejamento do jornalista saudita Jamal Khashoggi na Turquia. Nada garantiu em relação ao óleo e queimou ainda mais sua credibilidade. Se concorrer à reeleição em 2024, é alta a chance de derrota para o rival republicano, provavelmente Donald Trump.
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