sábado, 23 de julho de 2022

João Gabriel de Lima* - A luta de Maori contra Mr. Krudo

O Estado de S. Paulo

No game Wing, Mr. Krudo espalhou ‘fake news’ nas redes contra o movimento liderado por Maori

A vida não é fácil no planeta Tusor. Seus habitantes pagam por um erro crasso que cometeram nas urnas: eleger um populista. O carismático Mr. Krudo persegue universidades e demais organizações da sociedade civil, assedia jornalistas e espalha mentiras nas redes sociais. Felizmente, jovens como Maori estão atentos. Eles sabem usar ferramentas digitais para identificar “fake news” e desmascarar populistas.

Maori e Mr. Krudo são personagens do game Wing, criado pelo projeto Demos, “Democratic Efficacy and Varieties of Populism in Europe”. O Demos, que reúne professores universitários de todo o continente europeu, criou o conceito de “eficácia democrática” – o conjunto de competências que os cidadãos desenvolvem para participar da vida pública de seus países.

É algo que se aprende no dia a dia e começa na escola, como mostrou Renata Cafardo, do Estadão, em coluna publicada nesta semana. “Há várias coisas importantes para desenvolver o espírito democrático”, diz o cientista político Vinícius Gorczeski, um dos coordenadores do projeto. “Entre elas, conhecer o funcionamento das instituições e cultivar algumas virtudes democráticas.” Gorczeski, que mora em Budapeste, é o entrevistado do minipodcast da semana.

Entre as virtudes democráticas, segundo Gorczeski, estão a tolerância, o pensamento crítico e a aceitação de opiniões diferentes – ou seja, não encarar o adversário como inimigo. No game Wing, Mr. Krudo espalhou “fake news” nas redes sociais contra o movimento liderado por Maori. A polarização acabou por envenenar o debate público no planeta Tusor.

Uma pesquisa recente coordenada pela cientista política Camila Rocha e pela socióloga Esther Solano mostrou a importância de conhecer as instituições. Segundo a pesquisa, os jovens da América Latina têm carência de informações básicas, como o papel das diversas instâncias de poder numa democracia. Eis uma lacuna que a escola pode suprir – e também plataformas lúdicas como o game Wing, disponível na versão digital desta coluna.

Imaginemos por hipótese que Mr. Krudo, ameaçado de perder as eleições, inventasse “fake news” contra as urnas eletrônicas e chamasse o exército do planeta Tusor para supervisionar o pleito. Se conhecessem o funcionamento das instituições, Maori e seus amigos saberiam que o TSE de Tusor tem soberania total sobre as eleições, e que Mr. Krudo e seu exército não possuem nenhuma ingerência sobre a dinâmica do pleito.

É apenas um exemplo absurdo, claro – Maori diria que tal disparate não seria possível em lugar nenhum, nem mesmo num planeta fictício perdido no espaço sideral.

*Escritor, professor da Faap e doutorando em Ciência Política na Universidade de Lisboa

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é,o regime do Bozo supera qualquer ficcionista,e quem o apoia é sem vergonha como ele.