O Estado de S. Paulo
No game Wing, Mr. Krudo espalhou ‘fake news’ nas redes contra o movimento liderado por Maori
A vida não é fácil no planeta Tusor. Seus
habitantes pagam por um erro crasso que cometeram nas urnas: eleger um
populista. O carismático Mr. Krudo persegue universidades e demais organizações
da sociedade civil, assedia jornalistas e espalha mentiras nas redes sociais.
Felizmente, jovens como Maori estão atentos. Eles sabem usar ferramentas digitais
para identificar “fake news” e desmascarar populistas.
Maori e Mr. Krudo são personagens do game Wing, criado pelo projeto Demos, “Democratic Efficacy and Varieties of Populism in Europe”. O Demos, que reúne professores universitários de todo o continente europeu, criou o conceito de “eficácia democrática” – o conjunto de competências que os cidadãos desenvolvem para participar da vida pública de seus países.
É algo que se aprende no dia a dia e começa
na escola, como mostrou Renata Cafardo, do Estadão, em coluna publicada nesta
semana. “Há várias coisas importantes para desenvolver o espírito democrático”,
diz o cientista político Vinícius Gorczeski, um dos coordenadores do projeto.
“Entre elas, conhecer o funcionamento das instituições e cultivar algumas
virtudes democráticas.” Gorczeski, que mora em Budapeste, é o entrevistado do
minipodcast da semana.
Entre as virtudes democráticas, segundo
Gorczeski, estão a tolerância, o pensamento crítico e a aceitação de opiniões
diferentes – ou seja, não encarar o adversário como inimigo. No game Wing, Mr.
Krudo espalhou “fake news” nas redes sociais contra o movimento liderado por
Maori. A polarização acabou por envenenar o debate público no planeta Tusor.
Uma pesquisa recente coordenada pela
cientista política Camila Rocha e pela socióloga Esther Solano mostrou a
importância de conhecer as instituições. Segundo a pesquisa, os jovens da
América Latina têm carência de informações básicas, como o papel das diversas
instâncias de poder numa democracia. Eis uma lacuna que a escola pode suprir –
e também plataformas lúdicas como o game Wing, disponível na versão digital
desta coluna.
Imaginemos por hipótese que Mr. Krudo,
ameaçado de perder as eleições, inventasse “fake news” contra as urnas
eletrônicas e chamasse o exército do planeta Tusor para supervisionar o pleito.
Se conhecessem o funcionamento das instituições, Maori e seus amigos saberiam
que o TSE de Tusor tem soberania total sobre as eleições, e que Mr. Krudo e seu
exército não possuem nenhuma ingerência sobre a dinâmica do pleito.
É apenas um exemplo absurdo, claro – Maori
diria que tal disparate não seria possível em lugar nenhum, nem mesmo num
planeta fictício perdido no espaço sideral.
*Escritor, professor da Faap e doutorando em
Ciência Política na Universidade de Lisboa
Um comentário:
Pois é,o regime do Bozo supera qualquer ficcionista,e quem o apoia é sem vergonha como ele.
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