Folha de S. Paulo
Morticínio é política de Estado nas
sociedades em que não há lugar para todos
Cláudio Castro (PL) já pode ostentar os títulos de rei das chacinas, campeão dos banhos de sangue e governador mais letal da história do Rio de Janeiro. Três dos maiores massacres cometidos por forças policiais no estado ocorreram sob seu comando.
O do Jacarezinho, em maio do ano passado, com 28 pessoas assassinadas; o da Vila Cruzeiro, em maio deste ano, com 25 mortos, e agora o do Complexo do Alemão, com 19 vítimas (até o momento em que escrevo). Castro transformou a carnificina em espetáculo midiático-eleitoral.
Com cinismo nauseabundo, o carniceiro do Palácio Guanabara tentou empurrar a responsabilidade pela matança para Marcelo Freixo (PSB), seu principal adversário na disputa ao governo do Rio, e para "seu partido e aliados que proibiram nossas polícias de enfrentar esses bandidos em determinadas áreas. (...) Mas comigo não tem essa." Uma afronta explícita à decisão do STF, em vigor desde o auge da pandemia de Covid, de que a polícia só realize operações em favelas em situações excepcionais.
"Operação de inteligência"??? Conta outra. A polícia do Rio deve ser
uma das mais incompetentes do mundo. Não consegue (ou não quer) atacar o cerne
dessa tragédia social: evitar a chegada de armas e drogas nos morros. E não
consegue (ou não quer) porque tem muita gente ganhando dinheiro com isso na
metrópole à beira-mar.
Lembro da canção de Caetano e Gil,
"Haiti". Mata-se o povo preto e pobre, "só pra mostrar aos
outros quase pretos/(e são quase todos pretos)/e aos quase brancos, pobres como
pretos/como é que pretos, pobres e mulatos/e quase brancos, quase pretos, de
tão pobres, são tratados".
Morticínio é política de Estado nas sociedades em que não há lugar para todos. Esse é o cerne da violência bolsonarista, encarnada por Claúdio Castro. Suas hostes assassinas salivam sangue. São elas que poderão dar apoio à ruptura institucional planejada pelo tresloucado senhor das milícias do Palácio do Planalto.
Um comentário:
Excelente artigo,bandido bom é bandido morto,exceto se for branco e viver de rachadinha.
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