Correio Braziliense
Manter o controle do
Congresso e garantir a reeleição de parlamentares aliados fazem com que o Centrão
avance em direção aos parlamentares dos partidos de oposição
Com a entrevista do presidente Jair
Bolsonaro ao Jornal Nacional (TV Globo), ontem à noite — que pretendo comentar
amanhã, porque escrevo antes que aconteça —, iniciamos uma semana na qual as
propostas dos candidatos a presidente da República chegarão ao amplo
conhecimento dos eleitores. Ciro Gomes (PDT) participará na terça; o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na quinta; e Simone Tebet (MDB),
na sexta. André Janones (Avante), que seria entrevistado na quarta, retirou a
candidatura. As entrevistas esquentarão o clima político. O horário eleitoral
de propaganda obrigatória de rádio e tevê começará no dia 26, sexta-feira.
Enquanto a disputa pela Presidência monopoliza as atenções nacionais, a disputa eleitoral pelas 513 cadeiras da Câmara Federal e 51 assentos no Senado ocorre numa espécie de lusco-fusco: é acompanhada nos respectivos estados, mas não em seu conjunto, como deveria. É sempre assim, o balanço vem depois do primeiro turno, quando se avalia se houve muita ou pouca renovação. No Senado, com certeza, será limitada pelo fato de que está sendo disputado apenas um terço das cadeiras, uma vaga para cada um dos 26 estados e Distrito Federal; na Câmara, é possível que a renovação seja a menor dos últimos tempos, porque o processo eleitoral e seus mecanismos de financiamento foram blindados para dificultar ao máximo a renovação política.
Houve crescimento do número de candidatos,
principalmente de mulheres e de negros, por causa da política de cotas e da
obrigatoriedade de melhor distribuição de recursos para esses segmentos, mas
isso não significa que haverá ampla renovação. A principal mudança será em
relação aos partidos que não alcançarem a cláusula de barreira (2% dos votos válidos
em todo o Brasil para a Câmara dos Deputados, ou 11 deputados federais eleitos,
tudo isso em pelo menos nove Estados), que perderão o financiamento eleitoral e
o acesso à propaganda gratuita de rádio e tevê. Isso também é uma contabilidade
que ficará para depois do pleito.
A disputa pela Câmara é emulada pelo número
de deputados de cada partido, que determina a distribuição do fundo eleitoral
de R$ 4 bilhões, sem falar no fundo partidário, que financia o funcionamento
dos partidos. A performance dos partidos na eleição para a Câmara é a que tem
maior peso na distribuição do fundo eleitoral. O resultado da eleição
determinará a destinação de R$ 4,9 bilhões em 2024, e igual valor, pelo menos,
em 2026. Esses recursos do fundo estão por trás de todo o troca-troca de
partidos que ocorreu na janela de filiação partidária e da capacidade de cada
legenda estruturar suas chapas de candidatos proporcionais.
Quem tem a força
Dos 513 deputados atuais, 453 deputados
federais tentarão a reeleição, o maior índice da história, certamente porque
nunca tiveram condições tão favoráveis para a campanha. Historicamente, a taxa
média de reeleição é 53%. Os números mostram que 33% dos candidatos nunca
disputaram uma eleição e 44,5% já tentaram a carreira legislativa, mas não se
elegeram para qualquer cargo. Dos 10.332 concorrentes, apenas 2.257 (21,8%) já
exerceram algum cargo legislativo. O que está desequilibrando a disputa é a
força do dinheiro à disposição dos deputados federais, além da liberação de
verbas do “orçamento secreto” de R$ 16 bilhões para compra de apoios.
O “orçamento secreto”, como são chamadas as
emendas de relator do Orçamento da União, é uma ferramenta monopolizada pelo
Centrão, operada pelo ministro da Casa Civil da Presidência, Ciro Nogueira
(PP), e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Os parlamentares que
não estão na base governista estão em desvantagem. Como a liberação das verbas
depende do Executivo, o apoio dos candidatos do Centrão à reeleição de
Bolsonaro faz parte do pacote da reeleição, mas essa força de atração do
governo como forma concentrada de poder é mitigada eleitoralmente pelo
favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a expectativa de poder
que isso gera, além dos arranjos políticos locais, nos quais os governadores,
sobretudo os que disputam a reeleição, têm muito peso na armação das chapas
proporcionais.
Manter o controle do Congresso e garantir a
reeleição de parlamentares aliados fazem com que o Centrão, liderado pelo PP e
pelo PL, avance em direção aos parlamentares dos partidos de centro-esquerda,
incorporados à articulação majoritária da Câmara sem que, necessariamente, seus
partidos apoiem Bolsonaro. Vem daí também as dificuldades da construção de uma
terceira via, cujo espaço político está sendo ocupado pelo Centrão, como uma
força com política própria e poder de pressão sobre o governo, enquanto a
polarização eleitoral reduz o campo de disputa dos votos indecisos. A
possibilidade de romper essa lógica dependeria de um ambiente eleitoral mais
aberto, como foi o de 2018, no qual os parlamentares com mandato teriam mais
dificuldades de se eleger.
Um comentário:
O Centrão não é centro,não é esquerda nem direita,muito pelo contrário.
Postar um comentário