terça-feira, 23 de agosto de 2022

Andrea Jubé - Por que o voto das evangélicas será decisivo

Valor Econômico

“PT deve recuperar memória afetiva” dos governos Lula, diz pesquisadora

Impulsionador do presidente Jair Bolsonaro nas recentes pesquisas sobre a sucessão eleitoral, o voto evangélico foi decisivo na eleição presidencial de 2018. Para muitos analistas, aquele pleito foi a materialização da estatística de que aproximadamente 20% dos brasileiros, ou 31 milhões de eleitores, se identificavam como evangélicos.

Naquela disputa, pelo menos 21 milhões de evangélicos votaram no deputado Jair Bolsonaro, enquanto 10 milhões optaram pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Reparem que a diferença entre ambos no segundo turno foi justamente de 10 milhões de votos: Bolsonaro obteve 57,7 milhões de votos (55,1%), contra 47 milhões (44,8%) do petista. Citado pelo antropólogo Juliano Spyer no livro “Povo de Deus”, o doutor em demografia José Eustáquio Alves afirmou: “Não há dúvida de que o voto evangélico foi fundamental para a eleição de Bolsonaro”. Segundo ele, “mesmo sendo um terço do eleitorado, as lideranças evangélicas são muito atuantes e estão colhendo o resultado de anos de ativismo religioso”.

A última pesquisa Datafolha, divulgada em 18 de agosto, mostrou que Bolsonaro ampliou de 10 para 17 pontos percentuais a vantagem sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os evangélicos. No segmento, o atual mandatário saltou de 43% para 49% das intenções de voto no último mês, enquanto Lula oscilou negativamente de 33% para 32%.

Entretanto, uma parcela de pesquisadores constatou que o voto decisivo no pleito de 2018 partiu não do segmento como um todo, mas da parcela feminina pobre e evangélica. Quatro anos depois, essa mesma fatia do eleitorado pode ter participação igualmente decisiva no pleito de outubro.

Essa é a percepção da antropóloga Jacqueline Teixeira, professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), e uma das responsáveis pela pesquisa “Mulheres evangélicas, política e cotidiano”, conduzida pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser). Jacqueline pesquisa o segmento evangélico desde 2006, e, particularmente, as mulheres evangélicas desde 2010. Ela é autora da tese “A mulher universal”, com foco nas fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).

Em 2018, Jacqueline acompanhou discussões sobre as eleições em grupos de WhatsApp de mulheres da Iurd. Muitas resistiam a votar em Bolsonaro, mas isso mudou na reta final, quando elas passaram a ser pressionadas a mudar o voto depois que Fernando Haddad chamou o bispo Edir Macedo de “charlatão fundamentalista”. Elas acabaram convencidas de que votar no petista seria negar sua identidade religiosa e defender um candidato que perseguia a igreja.

Agora a pesquisa “Mulheres evangélicas, política e cotidiano” mira o engajamento político desse público para além das eleições, com foco na relação entre política e a vida cotidiana. É uma pesquisa qualitativa, iniciada em abril e em fase de conclusão, baseada em uma amostra que abrange mulheres das cinco regiões do país, de diferentes denominações: 65% são fiéis das igrejas pentecostais e neopentecostais e 35% vêm de igrejas protestantes históricas, com base na distribuição dessas religiões segundo o IBGE.

No tocante ao pleito de outubro, Jacqueline afirma, com base nos resultados da pesquisa colhidos até agora, que o voto das evangélicas ainda está oscilando. A maioria delas votou em Bolsonaro em 2018, mas não está convencida a repetir a escolha. As representantes do Nordeste demonstram convicção no voto em Lula, mas as mulheres do Sul e Sudeste estão indecisas.

“O que vai pesar na decisão do voto [das mulheres evangélicas] é a sensação de confiança de que o candidato apresentará uma proposta de governo com políticas públicas voltadas para a proteção da família”, explica Jacqueline. Ela descarta que a escolha baseie-se na questão da moralidade, na “luta do bem contra o mal”, invocada pelo presidente.

“É um público de faixa de renda baixa, mulheres que passaram por esse processo de vulnerabilização posterior à pandemia, preocupadas com núcleos familiares estendidos”, observou. Na ausência dos homens, elas são responsáveis pelos netos, pelos sobrinhos e agregados. “Vão confiar em quem oferecer políticas para ajudá-las nessa atividade de garantir a subsistência e o cuidado das famílias”.

Segundo Jacqueline, ao não encontrarem no Estado uma rede de apoio para suas famílias, essas mulheres buscam as igrejas evangélicas, que as recepcionam e acolhem. Por isso, ao mesmo tempo em que anseiam por uma rede de proteção do Estado, demonstram receio com os rumores de que o PT fechará igrejas. É uma notícia falsa, mas que tem sido disseminada nos grupos de WhatsApp e nas redes por pastores e bolsonaristas.

“Esse imaginário de guerra santa se alimenta de uma imagem que é mais antiga, de que o PT é comunista e que por isso, de alguma maneira, perseguiria igrejas e religiões”, diz a pesquisadora.

Ainda que o PT tenha governado o Brasil por mais de 13 anos, com Lula e Dilma Rousseff e nenhuma religião tenha sido perseguida, a professora explica que esse temor mais acentuado entre os evangélicos sobreveio às acusações contra o PT na Lava-Jato. Porque pastores antipetistas pregam que no pacote da “corruptibilidade”, os supostos desvios teriam se ampliado às políticas de educação e saúde, na forma da ideologia de gênero, do falso “kit gay”, da falsa “mamadeira fálica”, por exemplo.

A pesquisadora afirma que para reagir a essa ofensiva de “fake news” e fidelizar, ou conquistar, o voto das evangélicas, o PT precisa “trabalhar, ostensivamente, na recuperação da memória afetiva” dos tempos de bonança dos governos Lula.

“Quando a gente pergunta sobre as políticas públicas, como o Bolsa Família e outras, existe o reconhecimento de que elas eram importantes”, afirmou a pesquisadora. Ela acredita que o PT não deve disputar a eleitora evangélica no campo do “imaginário religioso” de Bolsonaro. A melhor estratégia seria apostar na confiabilidade das políticas públicas para o cuidado e proteção das famílias.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho vergonhoso uma jornalista dar orientações tão apaixonadas para um partido PT que teve toda sua cúpula inclusive o Lula presos por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha
É lastimável toda essa empolgação por um bandido que assaltou o país enquanto dizia que defendia os trabalhadores e as minorias
Foi condenado em três instâncias por nove juízes a mais de 20 anos de prisão e foi de forma malandra tirado da cadeia pra ser candidato isso é uma vergonha nacional
Infelizmente grande parte dos jornalistas vestiram a máscara do cinismo e já não se incomodam mais com ela

Fernando Carvalho disse...

O anônimo acima deve ser um membro da classe média pudibunda. Está preocupado com corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha? Que acha dessas organizações: Escritório do Crime e Gabinete do Ódio? E transformar o orçamento do país num "orçamento secreto"? Colocado nas mãos de um bando de parlamentares venais (o centrão). E pastores (adoradores do Bezerro de Ouro pedindo propinas justamente em "quilos de ouro"? E o pior de tudo um filo-fascismo assumido de quem admira um torturador a ponto de contemplá-lo com uma pensão de marechal. Diante dessa mistura de fascismo e corrupção a dupla Lula e Alckmin representam a frente de defesa da democracia. Viva a democracia!!!