O Globo
Chegou a conta da redução arbitrária do
ICMS para controlar a aceleração inflacionária
Quem quer que tenha testemunhado o penoso
esforço de construção — e reconstrução — do complexo arcabouço de controle
fiscal montado no país ao longo das últimas três décadas não tem como evitar um
sentimento de desolação diante da derrubada institucional que o governo e o Centrão
têm promovido, para tentar viabilizar a qualquer custo a reeleição de Jair
Bolsonaro.
Notícias recentes dão conta de que, em
reação à imposição arbitrária e eleitoreira de alíquotas máximas de ICMS sobre
combustíveis, energia elétrica e serviços de telecomunicação, vários estados já
conseguiram respaldo do Supremo Tribunal Federal a seus pleitos de redução do
pagamento dos serviços de suas dívidas com a União, em face da perspectiva de
perda de receita tributária com que terão de lidar.
Trata-se de um desabamento institucional que qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento do federalismo fiscal brasileiro teria sido capaz de prever. E, no entanto, não há registro de que, em Brasília, as autoridades fazendárias tenham feito chegar ao Planalto e ao Centrão suas apreensões, para não dizer seu alarme, quanto à inevitabilidade de tal desabamento.
Muito ao contrário, o que se vê é o
Ministério da Economia fazendo-se de atônito e claramente a reboque de boa
parte do vale-tudo que vem sendo orquestrado pelo Planalto e o Centrão, mas
sempre disposto a dar sua bênção, a posteriori, aos despropósitos que vêm sendo
cometidos.
No caso da redução de tributos imposta aos
estados, o ministério prontificou-se a classificá-la como um movimento
“tecnicamente correto”.
Se a ideia era reduzir o impacto do
encarecimento de combustíveis sobre segmentos mais desfavorecidos da população,
a solução deveria ter envolvido medidas mais bem focadas e menos onerosas para
as contas públicas.
Dessa perspectiva, é indefensável que todos
os consumidores de combustíveis fósseis do País tenham sido alegremente
agraciados com tamanha redução de carga tributária.
Mas a ideia que inspirou, de fato, a redução
de ICMS foi outra: conter, na marra, ainda que momentaneamente, a aceleração da
inflação que vinha assombrando a campanha da reeleição no Planalto. Não é por
outra razão que a desoneração incluiu também energia elétrica e serviços de
telecomunicação.
Para culminar, a demagogia foi perpetrada
com chapéu alheio, em brutal afronta ao pacto federativo. Uma medida populista,
tomada na esfera federal, de redução draconiana de um imposto cobrado pela
esfera estadual e compartilhado com os municípios. Tecnicamente correta?!
A lei complementar que assegurou a redução
das alíquotas de ICMS prevê que os estados só serão ressarcidos caso venham a
sofrer queda de receita superior a 5%. E, tendo em conta o excelente desempenho
da arrecadação estadual nos últimos meses, o que se esperava, em Brasília, é
que os estados não teriam como evidenciar queda de receita dessa magnitude
ainda em 2022.
Essa era a essência da esperteza. Fazer uso
ilegítimo do aumento de arrecadação dos estados, para, à bruta, reduzir
impostos cobrados na esfera estadual e ampliar o escopo da farra fiscal
eleitoreira em que a esfera federal está engajada. E, ao mesmo tempo, reduzir a
capacidade de gasto dos governadores, majoritariamente de oposição, no ano
eleitoral.
O que deu errado é que, no caminho, havia o
Supremo. Que prontamente acolheu o direito dos estados de já compensarem suas
perdas de receita no pagamento do serviço de suas dívidas com a União. Tudo
isso, ao custo de mais uma ruptura inconsequente e custosa das regras do jogo
que regulam o complexo arranjo de federalismo fiscal com que conta o país.
Tendo se deixado levar por incurável
fascínio pela recriação da CPMF, o governo mostrou-se incapaz de liderar uma
reforma de mais fôlego da tributação do valor adicionado, na linha dos projetos
que tramitam há anos no Congresso. E, agora, ao cabo do vale-tudo em curso,
deixa como legado, aos desafios da reforma, grave mixórdia adicional na
legislação que regula a cobrança do principal imposto indireto do país.
Um comentário:
O DESgoverno Bolsonaro é um DESASTRE em todos os setores! DESeducação, corrupção, incompetência generalizada, militarização de serviços que funcionavam, desrespeito às mulheres e tribos indígenas... E o genocida vociferando sua total incapacidade e maldade!
Postar um comentário