O Globo
O antigo é novo e o atual é velho
Hoje o Brasil completa 200 anos. Em tempos
estranhos, dias estranhos. Ontem, em São Paulo, foi
reinaugurado o museu que celebra a Independência. Hoje, na Avenida Atlântica, o
presidente da República terá seu dia.
A festa do Brasil atual, no Rio, será
dominada por Bolsonaro, com suas encrencas, divisões e radicalismos que levam a
nada. A festa da reinauguração do Museu do Ipiranga foi amostra da vitalidade
desta nação bicentenária. A celebração do passado mostrou o presente de um país
que funciona.
Sabe-se lá o que dirá o capitão em Copacabana.
Seu governo foi incapaz de produzir um só evento relevante para esta data.
Pensando no que foi o Bicentenário da Independência dos Estados Unidos em 1976,
ou o Bicentenário da Revolução Francesa, festejado em 1989, sente-se na alma o
peso do imobilismo.
Felizmente, reinaugurou-se o Museu do Ipiranga. Celebrou-se o trabalho de centenas de operários, servidores públicos, museólogos, restauradores, engenheiros e arquitetos. Celebrou-se também a capacidade articuladora de governos responsáveis. Entre eles, o de João Doria, que parece ter saído de moda, mas fez coisas que ninguém fez.
(Lula e Bolsonaro criaram salas
museológicas autocelebrando-se no Palácio do Planalto. Um, expondo documentos
pessoais. Outro, montando uma vitrine com o terno que usou no dia da posse.)
Em 2005, quando começaram as conversas para
recuperar o Museu do Ipiranga, ele estava literalmente caindo aos pedaços. A
cripta onde repousava Dom Pedro I, trazido de Portugal nas
festas do Sesquicentenário de 1972, tinha virado mictório de notívagos. O museu
parecia uma daquelas burocracias nacionais que não tinham conserto. (Além da
patriotada com os ossos de Dom Pedro, o governo do general Emílio Médici
patrocinou dezenas de iniciativas culturais relevantes.)
Em 2013, o Museu do Ipiranga foi fechado, e
começaram os trabalhos. O que foi reinaugurado ontem é uma nova instituição e
será certamente o melhor museu do país, tanto na instalação como no propósito.
Mais de 2 mil caminhões de terra foram retirados para permitir a expansão
física do museu sem alterar sua silhueta. Centenas de peças foram restauradas,
inclusive o “Independência ou morte”, pintado por Pedro Américo em Florença.
Isso não é pouca coisa num país onde museus pegam fogo e vive-se um tempo de
flerte com o atraso.
O novo Museu do Ipiranga é uma providencial
lição do vigor dos brasileiros. Ofendem-se as atividades culturais, e de uma
instituição arruinada saiu uma grande obra. Demoniza-se o serviço público, e a
burocracia cultural produz esse monumental resultado. Satanizam-se as alianças
do empresariado com o poder público, mas 36 empresas cacifaram boa parte do
serviço.
O antigo virou novo, e o que deveria ser
novo velho é. Tempos estranhos ecoam o século XVI, quando os caetés comeram o
Bispo Sardinha e o equivalente ao secretário da Receita, Antônio Cardoso de
Barros.
A turma que reconstruiu o Museu do Ipiranga colocou na rede um site precioso. Nele, quem tiver alguns minutos para perder saberá como se trabalhou.
7 comentários:
Ótimo texto !
Bravo!
Excelente análise! Parabéns ao colunista e ao blog que o divulga!
Nunca gostei do João Doria, mas tenho que reconhecer que foi um administrador corajoso e que lutou pelas vacinas e contra a política assassina e incompetente de Bolsonaro.
Bolsonaro não gosta de trabalhar, nem sabe o que é um museu ou uma biblioteca. Seu negócio é motociata, discursos cheios de mentiras, ataques à imprensa e às mulheres.
Jair Bolsonaro, o pior governante em 200 anos de Brasil independente!
Ele alfineta Lula e Bozo,Bozo e Lula,isenção é isto.
Postar um comentário