quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Elio Gaspari - Ruína e glória no Bicentenário

O Globo

O antigo é novo e o atual é velho

Hoje o Brasil completa 200 anos. Em tempos estranhos, dias estranhos. Ontem, em São Paulo, foi reinaugurado o museu que celebra a Independência. Hoje, na Avenida Atlântica, o presidente da República terá seu dia.

A festa do Brasil atual, no Rio, será dominada por Bolsonaro, com suas encrencas, divisões e radicalismos que levam a nada. A festa da reinauguração do Museu do Ipiranga foi amostra da vitalidade desta nação bicentenária. A celebração do passado mostrou o presente de um país que funciona.

Sabe-se lá o que dirá o capitão em Copacabana. Seu governo foi incapaz de produzir um só evento relevante para esta data. Pensando no que foi o Bicentenário da Independência dos Estados Unidos em 1976, ou o Bicentenário da Revolução Francesa, festejado em 1989, sente-se na alma o peso do imobilismo.

Felizmente, reinaugurou-se o Museu do Ipiranga. Celebrou-se o trabalho de centenas de operários, servidores públicos, museólogos, restauradores, engenheiros e arquitetos. Celebrou-se também a capacidade articuladora de governos responsáveis. Entre eles, o de João Doria, que parece ter saído de moda, mas fez coisas que ninguém fez.

(Lula e Bolsonaro criaram salas museológicas autocelebrando-se no Palácio do Planalto. Um, expondo documentos pessoais. Outro, montando uma vitrine com o terno que usou no dia da posse.)

Em 2005, quando começaram as conversas para recuperar o Museu do Ipiranga, ele estava literalmente caindo aos pedaços. A cripta onde repousava Dom Pedro I, trazido de Portugal nas festas do Sesquicentenário de 1972, tinha virado mictório de notívagos. O museu parecia uma daquelas burocracias nacionais que não tinham conserto. (Além da patriotada com os ossos de Dom Pedro, o governo do general Emílio Médici patrocinou dezenas de iniciativas culturais relevantes.)

Em 2013, o Museu do Ipiranga foi fechado, e começaram os trabalhos. O que foi reinaugurado ontem é uma nova instituição e será certamente o melhor museu do país, tanto na instalação como no propósito. Mais de 2 mil caminhões de terra foram retirados para permitir a expansão física do museu sem alterar sua silhueta. Centenas de peças foram restauradas, inclusive o “Independência ou morte”, pintado por Pedro Américo em Florença. Isso não é pouca coisa num país onde museus pegam fogo e vive-se um tempo de flerte com o atraso.

O novo Museu do Ipiranga é uma providencial lição do vigor dos brasileiros. Ofendem-se as atividades culturais, e de uma instituição arruinada saiu uma grande obra. Demoniza-se o serviço público, e a burocracia cultural produz esse monumental resultado. Satanizam-se as alianças do empresariado com o poder público, mas 36 empresas cacifaram boa parte do serviço.

O antigo virou novo, e o que deveria ser novo velho é. Tempos estranhos ecoam o século XVI, quando os caetés comeram o Bispo Sardinha e o equivalente ao secretário da Receita, Antônio Cardoso de Barros.

A turma que reconstruiu o Museu do Ipiranga colocou na rede um site precioso. Nele, quem tiver alguns minutos para perder saberá como se trabalhou.

7 comentários:

Mais um amador disse...

Ótimo texto !

Anônimo disse...

Bravo!

Anônimo disse...

Excelente análise! Parabéns ao colunista e ao blog que o divulga!

Anônimo disse...

Nunca gostei do João Doria, mas tenho que reconhecer que foi um administrador corajoso e que lutou pelas vacinas e contra a política assassina e incompetente de Bolsonaro.

Anônimo disse...

Bolsonaro não gosta de trabalhar, nem sabe o que é um museu ou uma biblioteca. Seu negócio é motociata, discursos cheios de mentiras, ataques à imprensa e às mulheres.

Anônimo disse...

Jair Bolsonaro, o pior governante em 200 anos de Brasil independente!

ADEMAR AMANCIO disse...

Ele alfineta Lula e Bozo,Bozo e Lula,isenção é isto.