Folha de S. Paulo
Contingente grande de eleitores se recusa a
votar em Bolsonaro
É perfeitamente compreensível que Lula não
queira perder nenhum voto de eleitor disposto a sufragá-lo, mas devo confessar
que me surpreende a veemência com a qual o petismo deflagrou campanha contra
as abstenções no
próximo dia 2 de outubro. E a razão de meu espanto é que as
abstenções, isto é, o não comparecimento, assim como os votos nulos e brancos,
o beneficiam.
No sistema eleitoral brasileiro, um candidato vence em primeiro turno se obtiver mais de 50% dos votos válidos. Abstenções, nulos e brancos, que passo a chamar de ANB, por reduzirem o universo de votos válidos, favorecem o postulante que estiver à frente na disputa e tenha alguma chance de chegar aos 50% —isto é, Lula. Só haveria risco para o petista se se imaginar que os ANB possam fazer com que Bolsonaro o ultrapasse, cenário altamente improvável.
Na prática, um ANB equivale a meio voto no
candidato favorito. Um exemplo, que roubo de meu amigo e xará Helio Gurovitz,
esclarece tudo. Imagine uma eleição com 100 eleitores, em que 99 deles já
votaram: 50 escolheram o candidato A; 49, o B. O voto nulo daria a vitória a A,
com 50 dos 99 votos válidos, ou 50,5%. Votar em A lhe daria 51% dos válidos.
Um cenário de sonhos para Lula, portanto,
seria aquele em que todos os seus eleitores aparecem para votar no dia 2, mas
os de Bolsonaro, Ciro e Tebet preferem esticar o fim de semana na praia.
Normalmente, é o TSE, não o candidato favorito, que faz campanha contra os ANB.
Eu diria até que, no caso de Lula, eles seriam um interessante veio a explorar.
Existe um contingente expressivo de
eleitores que, por preciosismos de consciência, se recusa a votar em Lula, mas
considera Bolsonaro uma opção ainda pior. Se esses cidadãos puderem ser
convencidos a abster-se, Lula daria um passo firme rumo à vitória em primeiro
turno. Admito, porém, que esse é um assunto de difícil abordagem para a
campanha petista.
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