O Estado de S. Paulo
A desaceleração e a recessão vão marcar a economia global no próximo ano
A economia global vem recebendo choques de
todos os lados. O primeiro deles foi a ruptura das cadeias de suprimento que se
seguiu à covid-19 e ao fechamento da maior parte das unidades produtivas, ao
mesmo tempo que milhões de pessoas passaram a trabalhar de casa. A lenta
retomada das atividades, depois de certo tempo, desorganizou a produção e a
distribuição, atrasando as entregas de todos os tipos de bens. O resultado
disso foi a falta de inúmeros produtos (os mais famosos são os semicondutores,
até hoje com problemas) e uma elevação generalizada de custos.
Em seguida, governos e bancos centrais
preocupados com os impactos sociais do lockdown criaram programas de
transferência de renda e de crédito para famílias e empresas, o que manteve a
demanda. Ela rapidamente se expressou na forma de aumento sem precedentes do
comércio eletrônico.
Esse movimento pressionou os preços,
gerando uma elevação do processo inflacionário para níveis que não ocorriam
desde os anos 70. Os últimos dados mostram nos Estados Unidos uma inflação de
8,5%, em 12 meses, e de 9,1% na Europa, e um processo bem disseminado.
O risco de um enraizamento da inflação acabou levando os bancos centrais de muitos países a elevar significativamente a taxa de juros básica, o que sinaliza de forma inequívoca racionamento do crédito, pressão em cima das empresas mais frágeis e/ou alavancadas e o consequente enfraquecimento do mercado de trabalho, sugerindo que em poucos meses regiões relevantes no mundo estarão em recessão. Acredito que será o caso das economias americana e europeia, entre outras.
Mas isso não é tudo. Além dos choques de
oferta e de demanda, existem hoje mais três questões não econômicas a afetar o
mundo.
A primeira delas é a equivocada política
chinesa de covid zero, que está levando ao recorrente fechamento de todos os
locais que apresentam algum novo surto do vírus. Por exemplo, Xangai ficou
fechada por 67 dias seguidos. Hoje, Shenzhen, Dalian e outras cidades também
estão em lockdown. A China vai crescer bem menos.
A segunda questão é, naturalmente, a guerra
na Ucrânia, responsável pela configuração de uma crise energética e alimentar.
Finalmente, a terceira questão não
econômica vem dos desequilíbrios do clima: o Hemisfério Norte está convivendo
com uma onda de calor sem precedentes, ao lado de forte seca que também afeta
alimentos, energia e a produção industrial.
A inevitável consequência é que a
desaceleração e a recessão marcarão o mundo em 2023.
Nenhum comentário:
Postar um comentário