O Globo
Não faz sentido apontar os erros passados
do PT na área fiscal e não fazer a mesma cobrança sobre a lambança do governo
Bolsonaro nas contas públicas
Economista com preocupação fiscal que não
vê o descalabro que é o governo Bolsonaro nesta área têm visão seletiva. O
governo furou o teto várias vezes, pedalou precatórios, fez escolhas erradas,
usou as crises como uma licença para gastar sem critério e armou bombas
fiscais. Os erros cometidos pelo PT são explorados à exaustão por esses
analistas, que, no entanto, não parecem se incomodar com os mesmos erros feitos
agora. Neste espaço, sempre critiquei os rombos e distorções em governos
petistas. Com a mesma régua, alerto para a herança que ficará da atual administração
que vai pesar nos próximos anos.
As declarações do ministro Paulo Guedes, na quinta-feira, são emblemáticas da maneira como se administra as contas públicas. No mesmo dia em que exibiu seu ufanismo irrealista, ao dizer que o Brasil cresce mais do que a China, ele falou em decretar calamidade. O uso desse instrumento previsto nas leis fiscais brasileiras foi banalizado e virou licença para fugir de todo o ordenamento das contas públicas. Em julho, decretou-se emergência para fazer um aumento oportunista e eleitoreiro em benefícios sociais. Agora, o ministro acena com a calamidade para tentar sustentar o estelionato eleitoral que Bolsonaro já comete ao prometer manter o benefício nesse valor, mas não incluir no Orçamento.
Essa foi a principal reclamação do relator
do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), ao receber o projeto
orçamentário enviado pelo Executivo, na última semana: “Quem promete é
candidato, ao presidente cabe propor. Por que ele não fez isso?” Tecnicamente,
a resposta é que se colocar isso no Orçamento estoura o teto. O problema é que
não encontrar uma saída orçamentária é uma confissão da equipe econômica de que
aprovou um benefício apenas para ser usado na campanha. Ademais, o teto de
gastos já foi desmoralizado várias vezes pela mesma turma.
O colunista Alvaro Gribel escreveu no meu
blog sobre as sete armadilhas deixadas no Orçamento para o próximo governo, que
em resumo, são: não prevê despesas dadas como certas, faz projeções otimistas
sobre arrecadação, adota renúncias fiscais inaceitáveis e confirma a pedalada
dos precatórios que já está virando bola de neve. A estimativa do Tesouro é de
que R$ 22,3 bilhões em precatórios não serão pagos este ano. No ano que vem,
outros R$ 28,85 bilhões. Tudo somado, R$ 51 bilhões de esqueletos vão para o
armário, e a conta continuará subindo ano após ano.
O governo aproveita o forte aumento da arrecadação
para dizer que faz um ajuste fiscal sério. Não fez, e a prova é que o déficit
volta ano que vem. O governo tem contado com receitas temporárias, como
antecipação de dividendos, e tem se beneficiado de receitas de commodities, que
são voláteis. Pelo lado das despesas, tem postergado despesas, fazendo ajustes
na boca do caixa.
Para derrubar a inflação em período
eleitoral, o governo federal abriu mão de impostos sobre combustíveis e
escreveu no Orçamento que isso custará R$ 53 bilhões no ano que vem. Como sabem
os bons economistas, renúncia fiscal é gasto. Nesse caso, regressivo e
irracional porque estimula o consumo de combustível fóssil. Além disso, impôs
aos estados uma perda de arrecadação que já foi judicializada e virou suspensão
do pagamento de dívida, gerando mais um nó federativo.
Contas públicas em desordem produzem
efeitos colaterais que atingem principalmente os pobres. O Brasil viu isso no
governo Dilma, quando as pedaladas viraram aumento de inflação, queda do PIB e
alta do desemprego. O desequilíbrio fiscal sempre piora a vida dos mais pobres.
Como na administração petista houve erros e acertos na área fiscal, é natural
que o mercado financeiro e todos os economistas perguntem: quais serão as
balizas fiscais que Lula pretende adotar caso confirme nas urnas o seu
favoritismo nas pesquisas? O PT precisa explicar. Não é conversa de mercado, é
preocupação real com a sustentabilidade de qualquer projeto econômico, social e
político.
O que não faz sentido é apontar os erros passados do PT e não fazer a mesma cobrança sobre a lambança dos últimos anos. Bolsonaro desestabilizou o teto de gastos, usou decretos de calamidade e emergência como gambiarras para despesas sem controle e contratou várias distorções que amanhecerão na mesa do próximo presidente no dia seguinte ao da posse.
5 comentários:
A colunista foi brilhante em apontar as contradições entre as declarações mentirosas da dupla Bolsonaro e Guedes: por um lado, mentem que a economia "está bombando" e que temos grande crescimento sem gente passando fome, enquanto decretaram "estado de calamidade" e intervieram de modo sem precedentes na economia. É impressionante a cara de pau destes canalhas!
É o dólar flutuante? Parou flutuar e aterissou no paraíso fiscal onde o Guedes esconde- os da inflação. Sujeitinho sujo.
Enquanto dita o valor do mesmo. Pode?
Lambança generalizada.
Guedes ficou um pouco mais rico durante este governo, enquanto quase todos os brasileiros empobreceram. Governo bom pra quem?
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