domingo, 4 de setembro de 2022

Elio Gaspari - O Datafolha e Marco Maciel

O Globo

Datafolha levou água para a possibilidade de um segundo turno

Bolsonaro parece preso na piada de Marco Maciel, o grande vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso. Faltando alguns dias para a eleição, o marqueteiro disse ao candidato:

— O nosso adversário está na frente, mas vem caindo, enquanto estamos subindo.

Ao que o candidato perguntou:

— E o senhor acha que a intersecção das duas linhas ocorrerá antes ou depois do dia da eleição?

Pelo Datafolha, em três meses Lula perdeu três pontos e está com 45% e Bolsonaro ganhou cinco ficando com 32%. Admitindo-se que ele recupere a aceleração, pois na última semana ficou parado, a intersecção das duas linhas ocorreria em 2023.

O Datafolha levou água para a possibilidade de um segundo turno. Ciro Gomes e Simone Tebet tiveram bons desempenhos no debate de domingo, mas continuam comendo poeira.

O sinal de perigo para Bolsonaro continua vindo de Minas Gerais. O governador Romeu Zema, que se elegeu na maré de 2018 e descolou-se de Bolsonaro, está com 52% das preferências (cresceu 5 pontos). Na região Sudeste, é em Minas que Lula mantém a maior vantagem sobre o capitão: 49% x 29%.

Só o tempo dirá quanto custará ao PT e a Fernando Haddad, seu candidato ao governo de São Paulo, ter aninhado na sua vice a mulher de Márcio França, que abandonou a disputa, apoiando-o. A professora Lúcia França tem sólida carreira profissional, mas é novata em disputas eleitorais. Márcio França lidera a disputa pelo Senado.

Briga pela bala

A Taurus aborreceu-se com a decisão do Exército de propor a suspensão definitiva da exigência de fiscalização para a importação de armas e munições. A barreira seria substituída pela certificação internacional dos produtos.

Veterana defensora da venda de armas, a Taurus celebrizou-se em 1999, quando seu presidente, Carlos Alberto Murgel, explicou: “Não é o revólver, a faca ou o porrete que comete assassinato, que mata, que agride. São as pessoas que fazem isso.” De lá para cá, o governo brasileiro passou a estimular a posse de armas, e o mercado nacional tornou-se mais atrativo.

Com várias fábricas e uma montadora nos Estados Unidos, onde ela se tornou uma empresa poderosa, a Taurus exporta a maior parte de sua produção.

O afrouxamento da fiscalização para a importação de armas atrairá mais fornecedores para o mercado brasileiro. Diante desse risco, a indústria advertiu: A nova regra “incentiva empresas como a Taurus, que possuem fábrica no exterior, a reduzirem os investimentos no Brasil, passando a produzir nas unidades no exterior e exportarem para o Brasil, já que essa falta de isonomia cria custos que tiram a competitividade da indústria nacional”.

Nos últimos 50 anos, esse tem sido o argumento de todas as indústrias para fechar o mercado nacional.

Como agora as armas caíram na roda, o debate seria enriquecido se algum interessado colocar no pano verde uma nova vertente:

Quem está interessado na abertura do mercado brasileiro para os fabricantes internacionais de armas?

Talvez algum conhecedor do mercado saiba, pois até 2018 a turma da bala parecia formar um sólido bloco.

Afinal, como disse Carlos Alberto Murgel na defesa das armas, não são as canetas que fazem as normas: “São as pessoas que fazem isso”.

O futuro do STF

Se ninguém se mexer, o próximo presidente ajudará a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 275, que aumenta de 11 para 15 o número de ministros do Supremo Tribunal Federal.

A PEC foi apresentada em 2013 e desengavetada em setembro do ano passado. É um docinho. Agrada deputados, senadores, alguns magistrados e procuradores, bem como a onipresente Ordem dos Advogados.

Os quatro novos ministros seriam nomeados pelo presidente do Congresso, a partir de listas tríplices enviadas pelo Conselho Nacional de Justiça, pelo Conselho do Ministério Público e pela OAB, dependendo da aprovação pelas maiorias da Câmara dos Deputados e do Senado.

Essa girafa ampliaria o número de ministros, mas reduziria a carga de trabalho e os poderes do Supremo Tribunal, limitando-o a tratar de questões constitucionais. O varejão seria transferido para o Superior Tribunal de Justiça.

Bolsonaro já indicou que simpatiza com a ideia de expandir o Supremo. Lula nunca foi tão longe.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e tem um fraco por bandidos desde o milênio passado, quando o assaltante Lúcio Flávio ensinou que “bandido é bandido, e polícia é polícia”.

Com tantos maganos prometendo combater a corrupção, o cretino acha que deveria ser organizada alguma homenagem aos assaltantes que levaram o carro da senhora Rosyneide Cordeiro, em Cariacica (ES), há uma semana.

Ela estava com suas duas crianças e os bandidos mandaram que saíssem do veículo, levando-o. No carro, estava a cadeirinha especial do menino Kauã, de 4 anos, avaliada em R$ 17 mil. Dois dias depois, o carro foi devolvido, com um bilhete:

“O crime pede perdão. Na hora da tensão não deu para ver o problema da criança. E o carro está sendo devolvido.”

CNJ engarrafado

No dia 12, a ministra Rosa Weber assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça. No CNJ, ela encontrará uma fila de algo como 200 processos esperando julgamento.

Sem maiores esforços, poderá zerar essa conta em três meses.

Limpará a pauta e mostrará a que veio.

Moro e os partidos

O ex-juiz Sergio Moro diz que deixou o partido Podemos porque pretendia auditar suas contas e a proposta não andou. Vá lá.

O partido rebateu mostrando as notas fiscais que ele apresentou, pedindo reembolso de R$ 45 mil. Listava a compra de roupas, inclusive bermudas, além de uma despesa com alfaiate.

Se ele tivesse achado notas fiscais desse tipo no sítio de Atibaia, pobre Lula.

Como juiz na Vara de Curitiba, Moro conheceu à saciedade as vísceras dos partidos políticos nacionais.

Como dizia Guimarães Rosa, em geral são casas onde homens sérios entram, mas por lá não passam.

Lula se mexeu antes

Bolsonaro deixou passar a primazia na condenação da tentativa de assassinato da ex-presidente argentina Cristina Kirchner. Logo ele, que há quatro anos correu risco de morte ao tomar uma facada em Juiz de Fora.

Lula pulou na frente condenando o atentado, atribuindo-o a um “criminoso que não sabe respeitar divergências e a diversidade”.

A iniciativa era conveniente, até porque o cidadão que empunhava a pistola é brasileiro.

Demofobia

Aqui e ali aparecem comentários que especulam sobre a adesão dos brasileiros mais pobres a Bolsonaro por causa do dinheiro do Auxílio Brasil.

É um raciocínio lógico, contaminado por uma pitada de demofobia.

Lula ganhou prestígio popular com o Bolsa Família, mas em seus oito anos de governo aumentou o salário mínimo, alavancou as cotas nas universidades, fez o Prouni e estimulou a agricultura familiar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Absurdo, nos USA 9 ministros resolvem o que os 11 do Brasil, não.

Anônimo disse...

As bermudas de Moro, o alfaiate de Moro e outras despesas dele foram pagas como despesas eleitorais! Já tive algum respeito por Sergio Moro, acreditando que ele realmente fosse honesto e bem intencionado. Poucas pessoas me decepcionaram mais que este juiz corrupto e mal intencionado! Deveria ter entrado pra Política logo que se formou, e não depois de ter iniciado carreira de juiz! Ainda ficou 1/3 do mandato do genocida como pau mandado do presidente, sem nada fazer no ministério.