O Globo
O movimento de Lula ao centro e do centro
em direção a ele criou outra dinâmica nesta eleição, enquanto Jair Bolsonaro se
isola em seu radicalismo
A eleição está se despolarizando. Não é
mais apenas dois grupos opostos que se enfrentam. Formou-se uma onda de
declarações de voto em favor de Lula que reúne ex-ministros
do Supremo, economistas de diversas tendências, cientistas sociais,
ex-ministros do governo Fernando Henrique, artistas que não votariam no PT,
milhões de cidadãos e cidadãs. A natureza desse movimento, que não se viu em
outras campanhas, vai além do próprio Lula. É o corpo da democracia reagindo
aos ataques. Foram tantos, tão constantes, estão ainda presentes no ar que,
mesmo sem articulação, formou-se esse arco de autoproteção nestes dias prévios
da escolha coletiva.
Escrevi aqui algumas vezes que nesta
eleição nunca houve dois extremos se enfrentando. Havia e há apenas um único
extremista. Jair Bolsonaro, ao longo do tempo, só confirmou essa visão com seus
atos e palavras. Lula, por seu lado, fez movimentos ao centro, e o centro
caminhou em direção a ele.
Muitos dos que declaram apoio não deixam de lembrar que têm, eventualmente, divergências, como acontece com os economistas, mas todos afirmam que Lula reúne as melhores condições para derrotar o projeto autoritário encarnado por Bolsonaro. O presidente alimentou esse isolamento com os seus seguidores. Mesmo nestes tempos finais, seu partido, seu entorno, os militares a ele ligados permanecem afligindo a nação com problemas inexistentes no sistema eleitoral.
Ontem, o TSE abriu a sala da totalização
dos votos à visitação, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, ciceroneou os
fiscalizadores e observadores que quiseram entender todos os detalhes. A
primeira evidência que saltava aos olhos era que a sala era clara e
transparente. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e o
presidente do PL, Valdemar Costa Neto, circulavam entre os visitantes. O notório
presidente do PL admitiu que realmente não há “sala escura”, para horas
depois o seu partido colocar em dúvida de novo as urnas eletrônicas,
recebendo de volta uma forte
nota do TSE. O general não disse nada às claras, mas continua rondando o
Tribunal, como uma sombra sinistra de outros tempos.
Hoje, os candidatos estarão frente a frente
no debate da TV Globo, última chance de Bolsonaro levar a disputa para o
segundo turno, e Lula garantir a vitória no primeiro turno. Um por cento que se
mova para um lado ou para o outro, e o resultado será diferente. Por isso,
todas as atenções do país estarão voltadas para o debate. Bolsonaro terá o
auxílio de um suposto padre que a lei eleitoral permite que participe. Kelmon
atuou como um ajudante de ordens de Bolsonaro no debate da semana passada.
Bolsonaro pode ter também a ajuda de Ciro Gomes, se o pedetista insistir na sua
estratégia de atacar mais a Lula.
Bolsonaro chega ao debate com uma intenção
de votos menor do que sua votação em 2018, em 14 estados e no Distrito Federal,
segundo levantamento do Pulso, publicado neste jornal no último domingo. Em 11
estados, manteve ou cresceu. Está atrás de Lula em estados mais populosos. Em
São Paulo, perde por 11 pontos, em Minas, por 18 pontos, no Ipec.
Lula chega ao debate em um momento
surpreendente nos últimos dias com a série de declarações de votos a seu favor,
um movimento que transcende a ele mesmo. Há sempre ondas de última hora, e a
que se formou nesses dias favorece Lula.
Ciro chega muito menor politicamente do que
já foi. Ele encerrou o primeiro turno de 2018 tendo 12%dos votos, mas a última
pesquisa Ipec deu 6%. Teve 40% dos votos no Ceará, agora tem 10% das intenções
de votos em seu estado. Nesta quarta campanha presidencial da qual participa,
Ciro acumula derrotas.
Simone chega ao debate com o mesmo percentual
de votos de Ciro, mas em um momento inteiramente diferente. É a primeira vez
que se candidata, é a primeira vez que seu partido lança uma mulher, e ela tem
tido excelente desempenho nos debates.
No meu livro “Democracia na Armadilha”, coletânea de colunas aqui publicadas sobre o governo Bolsonaro, há um texto sobre o discurso de posse do atual presidente em que o título foi “Dividir até na hora de somar”. Bolsonaro optou desde o começo pelo conflito. A última coluna do livro tem o título “A democracia morre no fim desse enredo”. O que a sociedade brasileira está fazendo, em tempo real, é tecendo uma rede de proteção à democracia para evitar esse final trágico.
3 comentários:
A colunista tem total razão! A democracia está reagindo ao vírus bolsonarista! Todas as maldades do genocida revoltaram grande parte da população. Metade de quem o apoiou em 2018 já está contra ele agora, muitos até aceitando votar em Lula como um mal bem menor pra evitar qualquer chance do genocida se reeleger e afundar de vez o nosso país!
Bolsonaro precisa de oração e não de voto.
Eu,como bom cristão,faço orações a ele e sua família quase todos os dias.
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