quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Cora Rónai - O jornal sempre sai

O Globo

Teremos as eleições mais importantes desde o fim da ditadura, é impossível pensar em outra coisa, falar sobre outra coisa

Faz uma eternidade que estou aqui no escritório olhando para a tela do computador sem saber como começar a coluna. Já fiz carinho nos gatos, já fui para a cozinha beber água, já fiz café, já fui olhar a paisagem lá fora, já tentei contar os peixinhos que nasceram ontem no aquário. Vou e volto, vou e volto. E nada. Tenho amigos que me dizem:

— Eu nunca conseguiria escrever uma coluna toda semana!

Mas escrever coluna é meu ofício, coisa que faço para viver há mais tempo do que vocês têm de vida, de modo que “não sei o que escrever” não é argumento válido. Aliás, tenho uma história a respeito disso.

Em 1991, Evandro Carlos de Andrade me chamou para editar um caderno de tecnologia para O GLOBO (tecnologia, na época, atendia por “informática”). Fiquei entusiasmada com a proposta, mas tive dúvidas se estaria à altura. Há tempos eu já não trabalhava em redação, como editora menos ainda. Eu escrevia de casa, e um motoqueiro levava as laudas datilografadas da coluna para o “Jornal do Brasil”, ali onde hoje fica o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (“lauda” era como chamávamos as páginas em que escrevíamos).

— Tenho confiança na sua capacidade — me tranquilizou o Evandro.

Não fiquei convencida.

— E se eu não conseguir? E se o caderno não sair?!

Ele me olhou como se eu estivesse dizendo o maior dos absurdos:

— Isso nunca aconteceu. O jornal sempre sai.

Aceitei o emprego. E, desde então, “O jornal sempre sai” passou a ser o meu mantra de trabalho. Às vezes estávamos eu e Cristina De Luca desesperadas, de madrugada, na redação vazia, e ainda faltava uma coisa ou outra; um título, uma legenda, aumentar ou diminuir um texto. Parecia que não ia dar para fechar as páginas todas a tempo, mas eu pensava — e volta e meia dizia em voz alta — “O jornal sempre sai”.

Muitas saudades do Evandro, muitas saudades daqueles tempos.

Graças ao meu mantra não entro em desespero diante da tela em branco: “O jornal sempre sai.”

Tenho a impressão de que, feitas as devidas adaptações, esse mantra funciona para tudo, ou quase tudo: “O jornal sempre sai.”

Teremos as eleições mais importantes desde o fim da ditadura, é impossível pensar em outra coisa, falar sobre outra coisa, escrever sobre outra coisa. Cada um sabe de si e dos números que vai digitar no domingo; eu já ia escrever “na solidão da urna”, mas se há uma imagem que não invoca solidão é a da urna eleitoral, com aquela quantidade de mesários, fiscais e eleitores na fila.

A verdade é que eleições são sempre uma festa, uma animação de gente na rua, uma vaga esperança de dias melhores (por mais que a gente saiba).

Como toda boa festa, eleições também costumam dar uma baita ressaca no dia seguinte — mas isso se vê depois.

Por enquanto, preciso terminar a coluna. Espero que seja bom, o domingo; com sabor de dia histórico, de página virada, em paz e sossego.

Vou lá fazer mais um café.

Estão vendo? O jornal sempre sai.

7 comentários:

Anônimo disse...

Não adianta te chamar mais de canalha nem de anti ético , sinto que você já está sentindo o peso da ressaca, não só você mas todos os jornalistas de esquerda vão sentir já no domingo à noite uma tremenda Ressaca
onde será revelada toda essa impostura que vocês assumiram trazendo a narrativa falsa e fazendo campanha escancarada pro Lula Ele vai ser derrotado tremendamente nas urnas não vai ser só ressaca não , o povo não vai perdoar essa traição e essa covardia de desinformar o seus leitores
Você jornalistas são traidores do povo e não serão perdoados pelo que vocês fizeram na pandemia e agora nas eleições

Anônimo disse...

Só os fanáticos, cúmplices ou idiotas acreditam que Lula pode trazer algo de bom para o Brasil

Anônimo disse...

Deus ouvindo as súplicas e preces de nós brasileiros, já enviou seus exércitos celestiais que estão combatendo as forças da escuridão
Vamos orar com Fé por Deus, Pátria Família e Liberdade!

Anônimo disse...

Barbaridade, o papagaio bolsonarista é ANALFABETO ou NÃO SABE LER? A colunista NADA falou de Lula, NADA falou do genocida, e o papagaio desgovernado já publicou 3 comentários sem qualquer relação com o texto leve da colunista... Até o Deus dos papagaios já foi incomodado em vão... É muita IGNORÂNCIA e CANALHICE! Reflexo do chefe da quadrilha...

Anônimo disse...

O papagaio é burro, como o chefe da quadrilha bozo.

Anônimo disse...

Bolsonaristas não respeitam as mulheres! Mulher escritora, então... O preconceito bolsonarista se revela em todos os lugares!

Anônimo disse...

A inocente colunista escreveu uma crônica do seu cotidiano, sem qualquer opinião ou análise política, apenas esperando eleições em paz e sossego. Como resposta, o fanático bolsonarista a ataca como canalha, anti-ética, traidora do povo... A canalhice bolsonarista não tem limites! Nem uma escritora idosa (69 anos) descrevendo suas dificuldades pra escrever sua coluna escapa dos ataques e das agressões dos estúpidos bolsonaristas! É este pessoal que fala tanto em Deus, religião, liberdade... MENTIROSOS e fingidos!