O Estado de S. Paulo.
O mundo de hoje é bem diferente daquele que existia no primeiro mandato de Lula
Estes ainda são dias de alegria. Lula foi
eleito presidente do Brasil mais uma vez, ainda que por pouco. Nos EUA, os
democratas mantiveram o controle do Senado, mas não conseguiram a maioria na
Câmara.
Desta vez, Bolsonaro e Trump fracassaram em
reestruturar as sociedades de seus países enfatizando os valores pessoais deles
– e aqueles de suas famílias –, em detrimento dos mais pobres, das mulheres, da
diversidade racial e sexual, dos indígenas e de outros críticos declarados.
Tanto Bolsonaro quanto Trump queriam olhar para trás, e não para frente.
Mas a vantagem apertada de cada vitória limita a liberdade de, simplesmente, seguir em frente. Um futuro melhor exige uma capacidade contínua de tentar estabelecer relações amigáveis e se comprometer, em vez de se impor. Isso vale até mesmo no Oriente Médio e no conflito entre a Ucrânia e a Rússia de Putin.
Este é um mundo bem diferente daquele de
quando Lula iniciou seu primeiro mandato. Naquela época, ele optou pela
continuidade da conversão dos superávits primários proposta por FHC. O boom das
commodities permitiu uma redução contínua da dívida, uma melhora na taxa de
câmbio, um crescimento mais elevado e, sobretudo, um aumento no consumo interno
à medida que os termos de troca prosperavam.
Com a decisão de realizar uma grande
distribuição de recursos para os mais pobres no início de seu novo governo,
restará pouco para o investimento público necessário para estimular o
crescimento real do capital social. O Brasil precisa de uma taxa de
investimento regular da ordem de pelo menos 24%/25% de seu PIB. Parte dela pode
vir de uma ampliação do investimento estrangeiro, mas também deve haver um
aumento da poupança doméstica para financiar o crescimento. Isso tem sido
altamente variável, caindo para menos de 15% quando o investimento estrangeiro
estava em rápida expansão.
Em poucas palavras, o Brasil não avançou
para um compromisso regular e maior com a formação de capital, mesmo com o
crescimento de sua receita. Não houve um grande aumento na participação do
comércio internacional, como aconteceu em outros países. Sempre, de alguma
forma, a questão volta-se para o papel positivo das indústrias, e não para os
avanços que ocorreram na agricultura, na mineração e na extração de petróleo,
além de algumas melhorias nos serviços.
Para terminar, o Brasil chegou a um ponto
em que as decisões produtivas se tornaram essenciais. Dilma prometeu dobrar a
renda per capita de 2010 até o aniversário de 200 anos da Independência do
Brasil, ou seja, 2022. Uma meta mais modesta, mas notável, seria atingir uma
taxa de crescimento contínua de 3% até 2026. (Tradução de Romina Cácia)
*Economista e cientista político, professor emérito nas Universidades de Columbia e da Califórnia em Berkeley
Um comentário:
Excelente reflexão sobre os recursos para cumprir as promessas de Lula... Preocupado com o futuro, mas sem a finalidade especulativa de curtíssimo prazo do deus mercado!
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