quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Marcelo Godoy - Lula e os cavaleiros húngaros

O Estado de S. Paulo.

O presidente eleito devia ler Oliveiros em vez de se deixar enredar pelas tentações de Lira

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva mal começou e já se vê às voltas com as três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. É sobre elas que se parece organizar o Ministério – exceto seu núcleo formado pelos cinco primeiros nomes anunciados – e se constrói a relação do mandatário com o Congresso.

Se o vencedor da eleição procurasse apenas organizar suas fileiras sobre a realidade em vez de ficções, como as bancadas temáticas de Jair Bolsonaro, seria alvissareiro desde que a divisão do poder levasse os demais grupos da sociedade a compartilhar um modo de vida, de pensar e de agir, usando o máximo de consenso e o mínimo de força. Mas não. A organização parece obedecer a interesses paroquiais na disputa por cargos e sinecuras e à acomodação de compadres. Divide-se o botim em nome da PEC da Transição.

Assim se organiza o poder. E nunca é demais lembrar: “Só os organizados podem dominar, e para organizar é preciso ter uma concepção de mundo que solde as experiências de vida num projeto votado a transformar o mundo, ou conserválo aparentemente como tal”.

A lição de Oliveiros S. Ferreira em Os 45 Cavaleiros Húngaros mostra a urgência de um projeto de destino à sociedade que dê forma às relações entre os grupos sociais, de maneira coesa, uma tarefa impossível sem partidos políticos organizados, pois são eles que têm a função de aglutinar segmentos sociais.

O bolsonarismo falhou justamente por não se organizar. Sua massa indistinta e a natureza em rede do movimento não fez a conexão entre a sociedade civil e a política. Sem partido dirigindo o processo não havia núcleo de poder e, sem este, não havia como exercê-lo no Estado, organizando a partir dele a política para adaptar a sociedade civil às formas de apropriação das posses essenciais – religiosas, sexuais, econômicas e políticas –, que formavam sua visão de mundo.

Restava-lhe o cesarismo – em razão da incapacidade de criar consenso –, que só se sustenta diante da ausência de partidos. O bolsonarismo quis explorar essa fragilidade. E é ela que pode abrir caminho a um futuro domínio extremista do Estado. Lutar contra ela é tarefa de todo dirigente partidário comprometido com a democracia.

Lula contou ter lido no cárcere sobre o Brasil. Conheceu a tragédia da escravidão e de como a maioria serve à minoria, ainda que o grande número subordinado também possa romper a dominação. Devia ler Oliveiros. E entender como se pode governar sem se enredar nas miudezas do PT ou nas tentações de Arthur Lira e seus cavaleiros húngaros, tão organizados como aqueles que dominaram Flandres na Guerra dos 30 anos.

 

6 comentários:

Anônimo disse...

A lição de Oliveiros S. Ferreira em Os 45 Cavaleiros Húngaros...
Tás brincando: Obra indisponível, pô!

Anônimo disse...

Bolsonaro e os cavalos que pastavam com ele
Segundo uma parábola bolsonarista, o MINTO se alimentava com colegas quadrúpedes num potreiro, perto da cidade onde foi gerado ou surgiu deixado pelos ETs, ali junto de Varginha. Como era muito guloso, o MINTO raspava o pasto e arrancava os capins com raiz e tudo. Ele era mesmo incomparável, e foi até selecionado pra garanhão, mas nas últimas semanas apareceu um sujeito de Garanhuns que botou o matungo pra correr, e o pobre MINTO não pára de broxar e relinchar lacrimejando, dizem até que quase nem pasta mais... Está sobrando mais capim pro seu colega Paulo Jegues, que está sendo levado pra fazer mais cocô lá pras bandas do Ipiranga, donde saíam os temidos e malvados bandeirantes.

Anônimo disse...

Sem graças.

Anônimo disse...

De sentir vergonha, não sei se choro pelo anônimo ou se rio dele

Anônimo disse...

Escatológico sempre presente
no blig

ADEMAR AMANCIO disse...

Carácoles!