Folha de S. Paulo
Despesa e dívida do próximo governo
dependem de sensatez, sorte e nova lei fiscal
As notícias mais recentes sobre os gastos
extras no Orçamento
para 2022 ajudaram a derrubar taxas de juros e o preço do dólar. É um
exemplo claro e prático de como uma administração econômica ao menos sensata
pode compensar o prejuízo causado desde o fim da eleição e ir além.
A autorização de gasto no pacotão de gasto da transição vai valer apenas por um ano. É o que o Congresso deve impor a Lula 3, pelo jeito. "Pelo jeito", pois, depois de tantas mudanças nos acordões entre os três Poderes, basicamente inconstitucionais, está difícil de prever como vão ser as leis na tarde de amanhã ou na noite de domingo.
Ainda assim, parece que se deu um sinal de
que a licença para gastar seria limitada. Foi o bastante para um desafogo
ligeiro nos preços do mercado financeiro. No fim das contas, essa interpretação
é ingênua, para ser ameno com o adjetivo (mais sobre isso mais adiante neste
texto). Mas o exemplo pode ser útil: prudência no gasto pode melhorar as
perspectivas de crescimento e, pois, de emprego.
A situação da vida miúda dos brasileiros e
o sucesso do próximo governo dependem, fundamentalmente, de uma baixa de juros,
dólar e expectativas
inflacionárias. Não quer dizer que o sucesso não dependa de outras
providências ou inovações. Mas, no fundamento, na base, nos pilares, depende do
desafogo das condições financeiras.
Isto posto, dá-se ênfase demasiada, por
exemplo, à discussão de quantos anos duraria a tal "licença para
gastar".
Lula 3 queria quatro anos, a PEC aprovada no
Senado dava dois anos e, enfim, parece que, por enquanto, a licença durará por
um ano. No entanto, supõe-se que haverá uma nova
"regra fiscal" (normas que definam um limite para o
endividamento público e, portanto, para a despesa, dada certa receita). Logo,
uma nova "regra fiscal" poderia limitar a despesa e a duração do
gasto definido na dita PEC da Transição.
Ou não.
O texto da PEC prevê que, até o fim de
agosto de 2023, o novo governo mande ao Congresso um projeto de lei
complementar que institua "...regime fiscal sustentável para garantir a
estabilidade macroeconômica do país e criar as condições adequadas ao crescimento
socioeconômico" (isto é, uma nova regra fiscal).
Sancionada tal lei, acabam o atual
teto de gastos, o método de correção de despesas com saúde e educação e
todas as restrições que seriam impostas caso a despesa obrigatória
ultrapassasse 95% da despesa primária (basicamente, proibições de gastos extras
com o funcionalismo e aumento de despesa obrigatória).
Tudo isso está na Constituição. Quer dizer,
com uma lei complementar, Lula 3 pode mudar o "regime fiscal". Daí
pode sair qualquer coisa. Pode sair um programa sensato, factível, flexível e
realista de controle do aumento da dívida pública —porém controle. Pode sair algo
"para inglês ver".
Em resumo, é fácil perceber que a aprovação
da PEC da Transição com "licença para gastar" por apenas um ano não
muda lá grande coisa na incerteza sobre o futuro da dívida pública, dos juros,
câmbio, inflação e crescimento da economia.
Sim, a redução do prazo da "licença
para gastar" de quatro anos para um ano tem alguma importância, pois agora
obriga de fato Lula 3 a apresentar um projeto de lei fiscal até o fim de
agosto.
Caso não apresente um novo método de
contenção da dívida, Lula 3 estará sujeito ao teto e outras restrições
instituídos por Michel Temer,
em 2016. Por que Lula 3 faria tal coisa, podendo revogar artigos da
Constituição, indiretamente, por lei complementar? Para aprovar tal mudança,
basta a maioria simples de Câmara e Senado.
2 comentários:
Pronto!
Matou a charada!
Todos querem gastar e esbanjar o dinheiro da viúva.
Postar um comentário