Folha de S. Paulo
No Brasil, naturalizamos as benesses concedidas
a políticos
Boa parte dos brasileiros se surpreende ao
descobrir que o presidente dos
Estados Unidos paga pelas refeições (excluídos banquetes oficiais) que
ele e sua família consomem na Casa Branca. Outros itens cobrados do presidente
incluem pasta de dente e papel higiênico. O simples fato de acharmos isso
estranho já indica como brasileiros naturalizamos as mordomias.
E olhem que os EUA concedem várias regalias pecuniárias e de segurança a seus ex-presidentes. Se quisermos um modelo mais igualitário, ao menos no que diz respeito à diferenciação entre cidadãos e políticos, devemos olhar para nações da Europa do norte como Suécia, Dinamarca e Noruega. Ali, não é impossível ver um premiê pedalando ou tomando um ônibus para ir ao serviço. Também dá para cruzar com chefes de governo num supermercado, empurrando seus próprios carrinhos de compras. Tampouco esses países são exemplos perfeitos de igualitarismo, já que são monarquias constitucionais, que inscrevem na própria Carta uma desigualdade fundamental, que é aquela entre a família real e os comuns.
Faço essas observações acerca dos gastos
de Jair Bolsonaro com o cartão corporativo da Presidência. Em primeiro
lugar, devemos agradecer a FHC por
ter criado esse cartão, que nos permite verificar quanto foi gasto e onde,
dando transparência às despesas e permitindo cobrar ressarcimentos, caso
estejam em desacordo com a generosa lei brasileira.
Em segundo, é importante frisar que, embora
o volume de gastos seja ínfimo diante do total do Orçamento público, ele tem
peso simbólico. Eu ao menos não consigo encontrar nenhum motivo racional para
justificar que o presidente, só por ser presidente, não precise pagar pelas
coisas que todos os outros cidadãos penam para comprar. Se é para levar a sério
o ideal republicano de igualdade diante da lei, deveríamos rever boa parte dos
penduricalhos acrescidos aos salários de autoridades.
Não vai acontecer.
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