O Estado de S. Paulo
Tem muita gente querendo salvar o Brasil no curto prazo, o que em geral não dá muito certo
Finalmente, o novo governo tomou posse sem
maiores problemas, numa vitória da regra democrática. A grande pergunta que se
coloca agora é o que ocorrerá em 2023 na área econômica.
Acredito que a maioria dos analistas
concorda que o ano começa com várias coisas positivas. A divergência vem
depois.
Temos a favor um ambiente mais desanuviado,
embora ainda algo tenso, e a certeza de melhora substantiva nas áreas da saúde,
educação, meio ambiente, relações exteriores e ciência e tecnologia,
extremamente machucadas nos últimos anos. A busca pela redução da fome e da
pobreza é tão bem-vinda quanto urgente.
Há, mais do que tudo, a concordância de que é preciso voltar a crescer de forma sustentada com redução simultânea da desigualdade. O problema é como fazer isso.
A maioria dos economistas acredita que é
necessário praticar uma gestão fiscal equilibrada e com horizonte para podermos
ter, simultaneamente, redução da pobreza, mais investimentos e crescimento.
Contrariamente, a heterodoxia acredita que
a expansão do gasto e do crédito públicos é condição necessária e quase
suficiente para obter os resultados desejados, dando pouca atenção para a
trajetória da dívida pública emitida em moeda do País.
Naturalmente, o primeiro grupo (ao qual me
filio) vê com muita preocupação a forte expansão fiscal autorizada pela PEC da
Transição, que, levada adiante, implicará pressão sobre a inflação, tornando
difícil a queda dos juros e a volta do crescimento. A propósito: continuar a
subsidiar a gasolina com renúncia fiscal não é uma boa ideia.
A incerteza se torna mais aguda pela
insistência do presidente em dizer que seu governo sempre buscou o equilíbrio
fiscal e, portanto, as dúvidas seriam improcedentes. É impossível esquecer o
desastre absoluto do governo Dilma, no qual a heterodoxia imperou, e deixar de
observar que muitas pessoas relevantes daquele tempo estão em posições-chave do
governo que se inicia.
A cacofonia de vários dos novos ministros
não ajuda a melhorar as expectativas. Tem muita gente querendo salvar o Brasil
no curto prazo, o que em geral não dá muito certo.
Neste momento, o Ministério da Fazenda
busca construir um programa de ajuste e uma nova regra fiscal. A qualidade,
consistência e aplicabilidade dessas propostas definirão o que vai ser de 2023.
Mas fácil não será.
*Economista
Um comentário:
Nada é fácil.
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