quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Bruno Boghossian – Tragédias, governantes e eleitores

Folha de S. Paulo

Em 50 dias, presidente visita três áreas atingidas por calamidades e faz contraponto com Bolsonaro

Em 50 dias, Lula voou três vezes para visitar áreas atingidas por calamidades. O petista viajou a Araraquara (SP) para avaliar os danos provocados pela chuva, foi a Roraima para anunciar ações de saúde para os yanomamis e sobrevoou regiões afetadas por temporais no litoral paulista.

Desastres e crises humanitárias instigam o eleitor a fazer uma avaliação instantânea de seus governantes. A ciência política já identificou efeitos na popularidade de políticos quando eles reagem ou deixam de reagir a casos de grande repercussão.

John Mueller mostrou, nos anos 1970, que eventos dramáticos com dimensão internacional e envolvimento direto do presidente podiam dar ao governante um aumento temporário de aprovação de cinco a sete pontos percentuais.

Nas décadas seguintes, outras nuances dessa relação foram analisadas. Christopher Achen e Larry Bartels apontaram que, em alguns casos, os cidadãos culpam governantes de maneira cega em caso de tragédia. Andrew Cole e outros autores, entretanto, concluíram que o eleitor pune quem está no cargo, mas ações de socorro amenizam esse impacto.

Episódios dessa categoria são eventos políticos porque dão ao governante elementos para construir sua imagem. A dimensão e a duração de seus efeitos dependem de outros fatores, como a proximidade de eleições, a ocupação do noticiário e a sensação de bem-estar da população depois da tragédia.

Em dezembro de 2021, Jair Bolsonaro apostou na rivalidade política com o governo da Bahia e se recusou a interromper suas férias para visitar locais atingidos pela chuva no sul do estado. Na eleição seguinte, porém, ele não teve perda significativa de votos nos municípios da região em comparação com 2018.

Lula investe numa linha de recuperação da liturgia do cargo e se beneficia de um contraste com Bolsonaro. O petista suspendeu a folga no feriado para ir a São Paulo, apressou o anúncio de medidas de socorro e fez a exibição de uma parceria com um governador que é seu adversário.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Lula é um estadista.
Bolsonaro nunca passou de um boneco criminoso manipulado pela fatia imbecilóide e golpista das FFAA.

ADEMAR AMANCIO disse...

É muito triste a situação daquele pessoal.