Revista Será? (PE), 3.3.23
Na próxima segunda, 6 de março, celebramos nossa Data Magna. A da Revolução Pernambucana de 1817. Para entender isso melhor, voltemos ao passado. Para lembrar que aqui se deram os primeiros movimentos pela independência do Brasil. A reação, contra a Coroa Portuguesa, ocorreu a partir de ideias iluministas propagadas no Seminário de Olinda (por isso também chamada Revolta dos Padres) e pelas sociedades maçônicas, logo disseminando-se pela sociedade. A insurreição, projetada para ocorrer um mês depois, na Semana Santa (junto com Bahia e Rio), foi antecipada pela tomada do Forte do Brum. E se deu quando o capitão José de Barros Lima, conhecido como Leão Coroado (por conta de sua calvície, em forma de coroa, com longos cabelos nos lados, mais parecendo uma juba), sacou de sua espada e varou, de um lado a outro, a barriga (o buxo, assim está nos livros) do comandante português Manuel Joaquim Barbosa de Castro, que lhe havia dado voz de prisão, cumprindo ordens do governador Caetano Pinto Montenegro – desse Caetano que o povo dizia ser pinto na coragem, monte na altura e negro nos sentimentos.
Durante 74 dias (75, para outros),
Pernambuco viveu a sina de ser independente. Livre. Um governo provisório
chegou a ser instalado. Tinha bandeira (a mesma de hoje, com três estrelas em
vez de uma), Constituição e forte regionalismo; passando-se, nas missas, a usar
hóstias de mandioca e cachaça em lugar do vinho. Seguindo-se uma repressão
sangrenta. Nove líderes, em Pernambuco (entre eles, o Vigário Tenório e o Leão
Coroado) acabaram condenados pelo crime de lesa-majestade. Em 10/07/1817 foram
enforcados, sendo seus corpos esquartejados e arrastados, por cavalos, pelas
ruas do Recife, como sinal de que insurreições não seriam toleradas pela Coroa
portuguesa.
Mas não ficou só nesse episódio, nosso
irredentismo. Em 1821, com a Convenção de Beberibe, Pernambuco veio a ser a
primeira província brasileira a formalmente se separar do Reino de Portugal, 11
meses antes da Proclamação da independência. Fosse pouco, em 1824, tivemos a
Confederação do Equador. Um movimento republicano que questionou a Constituição
de 1824. Seus líderes foram enforcados ou fuzilados. Entre eles Frei (Joaquim
do Amor Divino) Caneca. Condenado à forca, todos os carrascos se recusaram a cumprir
sua execução; mas, ordens são ordens, e acabou fuzilado em patíbulo armado no
Forte das 5 Pontas.
Por fim, em 1848, mais um evento
federalista, a Revolução Praieira, com os revolucionários presos sendo
anistiados mais tarde, em 1851. Marco Maciel, a quem tive o privilégio enorme
de suceder na Cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras, em seu discurso de
Posse na Câmara dos Deputados, afirmou: “Espero finalmente, nesta Casa,
continuar honrando as tradições de Pernambuco, que irrigou com o sangue de
heróis e mártires as virtudes cívicas de nossa gente”. Honrou, com certeza.
Viva Pernambuco.
P.S. Só para lembrar, uma historinha (não sei de quem é) que começa no Vaticano. Quando um turista daqui viu, na Catedral de São Pedro, telefone dourado com a placa “Ligação direta com o Paraíso, preço 100 dólares”. Voltando ao Recife, na Igreja do Carmo, estavam o mesmo telefone, a mesma placa e uma só diferença – o preço, agora de 25 centavos. Então perguntou, a um padre,
- Qual a razão.
- E a resposta foi
-Lá tem DDI, que é caro; e aqui, em
Pernambuco, é ligação local.
*José Paulo
Cavalcanti Filho. Consultor de UNESCO e Banco Mundial Presidente de
EBN, CADE e Conselho de Comunicação Social, do Congresso Nacional. Ministro da
Justiça. Membro da Comissão Nacional da Verdade. É membro da Academia
Pernambucana de Letras e da Academia Brasileira de Letras.
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