quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Bernardo Mello Franco - A destruição como espetáculo

O Globo

Presidente eleito da Argentina se vendeu como um vingador sem medo do ridículo

Um homem de jaqueta de couro sorri para a câmera e exibe uma marreta dourada. À sua volta, a multidão grita em coro: “Destruição! Destruição!”. O homem fixa os olhos na maquete de um edifício histórico. Passa a golpeá-la com fúria, até reduzi-la a migalhas.

O protagonista do vídeo que ganhou as redes é Javier Milei, presidente eleito da Argentina. A maquete representava o Banco Central, que ele ameaçou dinamitar e incendiar quando chegasse ao poder.

A extrema direita cultua a ideia da demolição. Seus próceres prometem desmantelar o Estado, desmontar políticas públicas, desossar instituições que esconderiam seus adversários.

“O Brasil não é um terreno aberto onde nós pretendemos construir coisas para o nosso povo. Nós temos é que desconstruir muita coisa”, disse Jair Bolsonaro no terceiro mês de governo.

Seu amigo argentino atualizou o lema para a era dos memes. Vestiu fantasia de super-herói, levou uma motosserra para o palanque, despedaçou um Banco Central de isopor.

Milei vendeu a destruição como espetáculo. Num país farto de políticos convencionais, apresentou-se como um vingador sem medo do ridículo. O candidato emergiu como o porta-voz dos revoltados. Agora o presidente terá que satisfazer as expectativas que criou.

No domingo, ele anunciou “o fim da decadência argentina” e proclamou que o país “voltará a ser potência mundial”. O discurso mistura um passado idealizado com um futuro utópico. A Argentina nunca foi o país mais rico do mundo, como Milei martelou na campanha. E não sairá do buraco tão cedo, apesar de suas promessas.

Se for implementado ao pé da letra, o plano do “anarcocapitalista” arrisca produzir uma convulsão social. Mais de 40% dos argentinos vivem na pobreza, sendo 10% na indigência. O discurso ultraliberal seduziu eleitores cansados do peronismo, mas não vai alimentar milhões de famílias que hoje dependem de auxílios do governo.

Além de fechar o BC e extinguir a maioria dos ministérios, o novo presidente quer implodir o Mercosul e abandonar as metas da ONU para a redução de emissões. A exemplo do capitão e de Donald Trump, ele nega a ciência e diz que o aquecimento global é invenção de comunistas.

O histórico da Argentina sugere que a agenda de Milei deve gerar protestos nas ruas. Eleito com discurso radical, ele já avisou que será “implacável” com quem tentar freá-lo. A ver se a ideia é usar a marreta.

 

3 comentários:

EdsonLuiz disse...

■■■Alguém que convida Jair Bolsonaro para a festa de sua posse na presidência da república de seu país merece todo o meu DESPREZO !
■■Se Lula fosse o convidado e não estivesse no exercício do mandato eu teria desprezo do mesmo modo.

■E como alguém pode fazer tanta carga contra corruptos e corrupção durante uma campanha e depois, quando vai tomar posse do mandato, convida... o corrupto Jair Bolsonaro!
■Ou se convidasse o corrupto Lula sem Lula estar no exercício da presidência, daria no mesmo que o vexatório convite a Bolsonaro.

■■Já se o convidado fosse alguém no exercício do mandato de presidente da república de um país, fosse Bolsonaro ou Lula, isto eu acharia normal e até elogiável, porque seria o protocolo diplomático esperado e seria o educado.

EdsonLuiz disse...

Dito isto, faço uma observação::
■Todos os que vejo fazendo juízo sobre Javier Milei eu não identifico como conhecedores suficientes do personagem para fazerem os juízos que fazem.
■■Seria mais adequado esperar que Javier Milei se apresente com mais declarações, agora fora da situação de campanha, e com atos oficiais, para só então alguém estar em condições de fazer juízo.

Claro que melhor ainda seria se Javier Milei, Lula e todos que encenam deixassem de ser atores e se mostrassem como são de fato desde a campanha. Mas parece que pedir isso para eles é pedir demais.

■■Javier Milei, mostra-se um personagem contraditório::

■Por um lado, Javier demostra que conhece os fundamentos da ideologia que diz professar, o anarco-libertarianismo, ao contrário da maioria de políticos, jornalistas, filósofos, sociológos, militantes e outros, principalmente os que se dizem de esquerda aqui no Brasil e que quando vamos ver com atenção verificamos que eles são identificáveis mais como adeptos da ultra-esquerda ou não são adeptos de ideologia nenhuma, sendo apenas apoiadores de populistas.

■Por outro lado, Javier Milei também dá declarações que assustam pela proximidade que estas declarações têm com posições ideológicas de ultra-direita.

Só o tempo para clarear qual o correto posicionamento do presidente eleito da Argentina.

■■■De qualquer modo, é completo cinismo os que cultivam posições ideológicas de ultra-esquerda (embora eles nunca assumam e se dizem "de esquerda") ficarem dizendo que se assustam com os que eles dizem ser de "ultra-direita".

Ultra-esquerda e Ultra-direita, estes dois sabores ideológicos assustam! E assustam mais quando enganam para se passarem por versões atenuadas do que realmente acreditam.

ADEMAR AMANCIO disse...

Chores por nós...